domingo, 27 de setembro de 2009

ESTAÇÕES DA VIDA

A primavera entrou trazendo com ela o vento frio do inverno e a chuva generosa a regar o ventre da Terra. Chegou trazendo a certeza dos brotos e das flores, nutrindo as sementes adormecidas no inverno, lavando a paisagem, ressaltando as cores.
Que se faça PRIMAVERA em nós!
Nossas estações internas também são influenciadas pelas intempéries da existência. Verão é a exuberância das estações, o sol escaldante convida à vida lá fora, a despir-se dos velhos hábitos e banhar-se nas águas da alegria. As férias trazem a sensação da liberdade adiada a cada segunda-feira e prometem sábados e domingos todos os dias.
Quando o sol ilumina nossa alma e a paixão habita nosso cenário, então somos verão e expandimos nosso ser inteiro sem fronteiras na imaginação. É a juventude da vida!
Mas o auge da expansão é o inicio do recolhimento neste universo circular e cíclico. O outono traça o caminho de volta para casa. Devagar, a brisa leve traz o cheiro da fruta madura e a promessa de novas sementes. No outono a vida amadurece e toma consciência de si, atinge sua plenitude e faz sua colheita individual e única, resultado de todas as vivências dos tempos de expansão. È hora de novas escolhas, de internalizar os frutos das experiências e separar as sementes a serem cultivadas no tempo certo, hora de aprender a paciência da espera e a certeza do amanhã.
Inverno é tempo de recolhimento, onde se prepara nova vida, buscamos acolhimento e aconchego no útero possível e hibernamos em nossas cavernas escuras e silenciosas a espera do tempo de despertar. Quando a vida lá fora está fria e cinza, quando a paisagem interna parece estar morta, então, é inverno em nós, o mais profundo encontro com nossa essência dá-se nessa fase do recolhimento, onde nossa centelha divina ilumina as trevas da solidão e abre as portas da esperança!
Agora é primavera! A mais bela das estações, vamos cuidar do nosso jardim?
Pode ser que o jardim das nossas emoções tenha sido um pouco castigado pelas forças da natureza, pode ser que tenha ficado abandonado ou o deixamos em mãos que não o fertilizaram. Pode ser que, mesmo com cuidados e carinho, tenha recebido estilhaços das guerras da humanidade, nosso jardim é só uma parte desse imenso paraíso, tudo que acontece à ele, atinge nosso jardim.
É primavera e o Céu derramou suas Águas abençoando a Terra e os seus Filhos!
Primeiro, limpemos o chão a ser plantado, vamos retirar dele todas as toxinas que podem envenenar nossos brotos: as mágoas, o medo, as culpas, o egoísmo, a raiva, os preconceitos, a inveja, a avareza, a maldade, e tantos outros venenos..
E então é hora de arar o solo com as mãos cheias de humildade e gratidão por tudo que temos e somos. Vamos misturar o húmus da verdade e da coragem a fertilizar a área da imaginação e a nutrir todas as formas de vida com respeito, solidariedade e compaixão.
Agora sim, uma a uma, plantemos as sementes que guardamos nas profundezas do coração, as delicadas flores do perdão, as sempre vivas da alegria, os doces lírios da paz... Plantemos coloridos beijos de ternura e amores-perfeitos sem medo, lilases lavandas cheias de calma e rosas vermelhas transbordantes de paixão. Um gramado de generosidade e arbustos perfumados de suave sedução.
Todos os dias, neste solo fértil cultivado por nossas mãos, derramemos as límpidas águas do AMOR em forma de proteção, para que nada e ninguém destrua as possibilidades de vida contidas nas sementes, para que não sequem os sonhos que dão força de crescimento aos seus brotos e para que nenhuma nuvem negra impeça o Sol de fecundar a vida que explode em beleza homenageando e honrando o seu Criador.
É primavera e nós também vamos florir!

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

A CULPA É MINHA?

Se existe um sentimento mais pernicioso para nossa plenitude e felicidade do que a culpa, eu desconheço. Não estou falando do reconhecimento da responsabilidade que temos sobre nossa vida e o que permitimos que as pessoas façam com ela; também não falo dos erros que cometemos pela vida a fora e que nos ajudam a crescer e aprender o que precisamos para tornar-nos pessoas melhores do que já somos. Falo de um sentimento que nos aprisiona e nos condena a um eterno movimento de auto punição, falo do sentimento que não nos permite acreditar merecedores dos prazeres que a vida pode nos proporcionar, merecedoras do amor e da alegria de ser quem somos.
A culpa está ligada ao pecado, ‘minha culpa, minha culpa, minha máxima culpa’, está ligada aos conceitos religiosos que aprendemos quando ainda não temos condições de pensar subjetivamente, de abstrair. Lembro-me bem da imagem que eu tinha de Deus na infância e perdurou até o fim da adolescência, imagem que deve habitar o imaginário de muitas pessoas ainda hoje. Eu via Deus como um senhor imponente de barbas brancas, sentado num trono no céu, de onde podia observar todas as pessoas e marcava no caderninho todos os pecados que eu cometia e deveria prestar contas mais tarde. E esse caderninho foi sendo preenchido dentro de mim.
A culpa é um sentimento que sempre nos faz sentir ‘devedores’, em falta com os outros ou com a gente mesmo, e se estamos devendo não podemos receber nada de bom. Aprendemos que, se somos culpados, temos que receber a devida punição, e passamos a fazer isso inconscientemente boicotando as oportunidades de crescimento, as possibilidades de expansão da própria consciência. Ficamos encarcerados na cela da solidão, o maior castigo a que podemos nos condenar.
A culpa talvez seja o sentimento que mais ressalta um dos maiores valores históricos e filosóficos cultivados pela raça humana: a liberdade; no verdadeiro sentido da palavra, que infelizmente para a personalidade culposa depende sempre da autorização do outro.
E assim, vamos elegendo nosso cárcere e nossos carrascos. Pode ser o excesso de trabalho que não nos permite ter vida, pode ser um casamento infeliz onde o amor já acabou e o que fica é o sentimento de dívida, podem ser doenças físicas e emocionais a nos castrar a alegria de estarmos vivos, e muitas outras situações que nos colocamos e não nos permitimos fazer novas escolhas.
A personalidade culposa entra em um círculo vicioso onde repete sempre o mesmo pecado, o mesmo erro como forma de punição, o que acaba gerando mais culpa e necessidade de punição. Freud cita “compulsão a repetição” um defeito de reviver eternamente um tipo de neurose, como se repetir determinado tipo de erro pudesse em algum momento fazer com que ele se tornasse um “acerto”. Acontece que o mecanismo da culpa está também interligado a reprodução de nossos modelos familiares, sendo que em determinado momento da vida, há uma espécie de disparo de algo automático que faz com que nos obriguemos a viver a mesma história ou conflitos de nossos familiares. Esta compreensão é fundamental para a descoberta da gênese da culpa, pois descobrimos que o poder do inconsciente não está a favor de uma mudança, mas tão somente da necessidade de copiar literalmente determinado modelo. A obrigação de ser igual é uma tarefa essencial da culpa.
E então, como livrar-nos desse mal que mina o chão onde pisamos, que entorpece os sentidos e reveste tudo de cinza? É possível, é bem possível e devemos começar agora mesmo.
Para a culpa, só há dois caminhos: o perdão ou a punição. E o perdão mais difícil é aquele que devemos conceder a nós mesmos. Antes, temos que nos reconhecer humanos, incompletos e errantes, aceitar que a perfeição é uma ilusão da mente do homem, que não somos os juízes e não é nossa função julgar o outro e nem a nós mesmos. Mas se julgamos e condenamos, então temos que trilhar o caminho do perdão, no seu verdadeiro sentido. Perdoar não é eximir-se das responsabilidades sobre seus atos, mas acolher-se como se faz com um amigo querido, aceitar-se por inteiro, como se pôde ser até então, é livrar-se das mágoas e dos ressentimentos instalados em nossa alma. Perdoar é libertar-nos de tudo que nos aprisiona e dar-nos, enfim, a permissão e autorização para sonharmos e sermos felizes e plenos de vida e amor.
Perdoe-se!

sábado, 12 de setembro de 2009

INFERNO ASTRAL

Segundo a astrologia, nos quarenta dias anteriores ao nosso aniversário, estamos num período chamado “inferno astral”.
Bem, se é inferno não deve ser muito bom, penso em algo quente, ardente, onde somos destinados a conhecer e conviver com nossos próprios demônios, com sofrimento intenso no julgamento de todos os atos pecaminosos que cometemos durante a vida. Uau !!! Isso é mesmo terrível para quem tem muitas contas a acertar com o universo!
Nem sei se acredito muito nisso, mas sei que comprovo sempre. Em mim mesma, nas pessoas com quem convivo afetivamente e, mais intimamente, naquelas pessoas com quem desenvolvo meu trabalho em psicoterapia.
No período do nosso inferno astral de cada ano, sofremos pra caramba. Sofremos mesmo. Tudo tem um peso muito maior, nosso julgamento sobre as pessoas fica extremamente aguçado, mas o que mata é nosso julgamento sobre nós mesmos. Ah ! Este sim, adquire requintes de uma crueldade quase redentora, velada, sutil, tornando-nos vítimas de todas as escolhas que fizemos durante o ano que se finda e não raro, das escolhas de todos os tempos, mesmo aquelas onde a imaturidade e a inconsciência, junto às ilusões da vida e às paixões desenfreadas tomaram conta de nós. É como se fizéssemos passo a passo um balanço de nós mesmos. Fácil não pode ser, olhar para si sem lentes cor de rosa, sem máscaras, despidos de defesas e justificativas sem sentido para tudo que não temos coragem de encarar.
Independente do período anteceder a data do aniversário, vez ou outra todos passamos por períodos assim, onde um verdadeiro ‘inferno’ instala-se em nossa mente, na nossa alma atormentada e reflete necessariamente no corpo, o templo das nossas emoções, através dos mais variados sintomas.
As sociedades primitivas tinham rituais para a purificação do corpo, da mente e do espírito porque acreditavam que ‘o espírito pode ficar um pouco enferrujado ao longo do tempo, sempre que as experiências da vida física se tornam descontroladas’. Através desses rituais, que geralmente exigiam algum tipo de sacrifício, a limpeza e purificação era o caminho para livrar-se de todos os pensamentos, sentimentos e atitudes negativas, conduzindo de maneira suave e harmoniosa ao desapego das emoções do ego e ao ‘caminho sagrado’, onde se pode contemplar a paz e a serenidade, e voltar a usar todo o potencial criativo de forma brilhante e harmoniosa a favor da vida plena.
Acredito que sempre recebemos tudo que precisamos. E se precisamos desse inferninho, que venha então e que possamos nos transformar com ele, transcender a mesquinhez da vida material e buscar o sentido no sagrado que nos habita.
Se precisamos nos condenar, nos punir e sofrer “o verdadeiro inferno” para limpar nossos pecados e nos redimir de todas as culpas, que sejam bem vindos os demônios escondidos em nossos porões, alimentando-se de nossa ignorância e escuridão. Que venham todas as legiões de anjos do bem e do mal em socorro de nossa alma carente de libertação!
Só assim podemos tornar-nos íntegros... Inteiros... Integrando nossos dois lados, aceitando e convivendo pacificamente com nossas limitações, nossos pecados, nossos mais escondidos desejos e segredos, sem culpas, sem ressentimentos, sem julgamento.
E só então somos capazes de expandir a imensa paz que há em nós, de alimentar sempre o nosso amor pessoal com a luz da humildade de nos reconhecermos eternos aprendizes de nós mesmos e do caminho sagrado da plenitude.

Joana Carolina Paro.

sábado, 5 de setembro de 2009

LINGUAGENS DO AMOR.

Meus queridos leitores e leitoras, estamos construindo um vínculo que me permite tratá-los assim, carinhosamente. A certeza dessa amizade tem vindo até mim através das mais diferentes pessoas, que com esse mesmo carinho agradecem, elogiam, comentam algo que as tocou direta e profundamente, algo que serviu para outra pessoa e foi recomendada, de alguém que recortou o artigo do jornal e pregou no local de trabalho para que todos refletissem, e até de pessoas que passaram a dar uma importância especial aos jornais de sábado porque buscam algo que as façam pensar, olhar para suas próprias emoções e entender melhor os sentimentos e limitações de outras pessoas.
Recebi e-mails, telefonemas, recados pelo Orkut, mas os que chegam pessoalmente trazem também seus abraços, apertos de mãos calorosos, beijos, e uma chuva de coisas boas que nutrem e fazem brotar as sementes da minha poética a serviço da vida. Por tudo isso, agradeço com o coração transbordando alegria.
E nos momentos que meu sentimento é gratidão, percebo que nenhuma insatisfação, nenhum medo, pensamento derrotista ou dor de alma passam perto de mim. Sinto-me em paz comigo, com Deus e com o mundo.
É aquele sentimento de aprovação, aceitação, amor. Isso porque aprendemos que para sermos amadas temos que ser aprovadas, admiradas e importantes. E o amor tem tantas linguagens que às vezes não conseguimos decodificar. Mas a linguagem de amor que todos conhecem é o reconhecimento da importância da nossa vida na vida das outras pessoas. E isso, precisamos dizer, demonstrar nas pequenas atitudes do dia a dia, nas datas especiais onde nos é permitido o forte abraço, as palavras carinhosas, os cartões contendo palavras que nunca conseguimos dizer pessoalmente, os presentes que escolhemos com cuidado para agradar, a solidariedade nas dores, o acolhimento no desespero.
Perseguimos o amor, sofremos quando nos sentimos rejeitados, tememos perder a aceitação das pessoas que são importantes para nós. Temos medo da solidão e do abandono. Medos primários que se repetem a vida toda com maior ou menor intensidade porque sem o outro, não somos ninguém, são as pessoas que nos dão a referência de quem somos. A timidez nada mais é que o medo do contato com o outro, o medo da não aceitação, do sentimento de exclusão e rejeição. O sentimento de pertinência promove segurança, aconchego e alegria.
A pedagogia da punição e do pecado e a ilusão de um ser ‘ideal, perfeito’, são as grandes responsáveis pelos sentimentos de inferioridade, incapacidade e culpa que se encontram como pano de fundo na vida daquelas pessoas que não se sentem merecedoras do amor, do sucesso, da abundância e da felicidade, e por isso vivem boicotando, de forma inconsciente, todas as boas oportunidades que a vida oferece.
Vamos lançar nosso olhar para dentro... Qual é o padrão de pensamentos e sentimentos que se repetem em nossas vidas sem que tenhamos controle? É preciso identificar as emoções que se apossam da nossa alma em defesa do ego, para que possamos nos separar delas. Precisamos conhecer o que nos limita de sermos mais felizes e plenos, para nos autorizarmos a realizar os sonhos que acalentamos, para fazermos escolhas mais conscientes e saudáveis. Carecemos de uma boa dose de amor pessoal para nos aceitarmos com todos os erros que já cometemos e os que ainda iremos cometer. Reconhecer nossos próprios talentos e elogiar os talentos alheios para fazê-los crescerem, é alimentar o lado criativo e amoroso do ser humano, é um incentivo para que se coloque os dons a serviço da evolução da humanidade.
Praticar a linguagem do amor generoso, do amor que liberta e alimenta, é o exercício mais gratificante e construtivo da existência. Ser gentil com as pessoas e com o planeta, sentir-se responsável pela paz nas relações e pela evolução pessoal e coletiva dá sentido e importância à nossa vida.
Onde reina o amor, a coragem é maior que o medo, a gratidão sana toda insatisfação e a felicidade é um sonho possível.

Joana Carolina Paro