sábado, 29 de agosto de 2009

A NOITE ESCURA DA ALMA.

Assim como a alegria é a luz no coração, a depressão é a noite longa e escura da alma.
Não existe luz sem sombras, nem plenitude sem solidão.
A depressão é a ausência de si mesmo, a morte em vida, e só quem já a experimentou pode avaliar a intensidade com que ela aniquila a vida de quem sofre deste mal.
É considerada a quarta maior causa de incapacitação ,do mundo, por seus efeitos devastadores. Estudos revelam o aumento da incidência da depressão, estimando-se que de 15% a 20% da população adulta é vítima de pelo menos um episódio depressivo durante a vida. Quem sofre a primeira crise tem 50% de chance de reincidência e após o segundo episódio aumenta ainda mais a ponto de tornar-se crônica se não tratada adequadamente.
Dependendo da intensidade do quadro depressivo, além da tristeza profunda e inexplicável, pode incluir em seus sintomas distúrbios de sono e de apetite, cansaço e desânimo, irritabilidade, perda de memória, dores de cabeça e no corpo, problemas digestivos e até mesmo pensamentos e comportamentos suicidas. Algumas pessoas apresentam um quadro atípico, camuflam a tristeza e melancolia com respostas agressivas, críticas destrutivas e queixas constantes. Voltando o olhar para fora de si, vêem no mundo e nos outros a justificativa para os seus sentimentos negativos.
Uma característica marcante e sempre presente na pessoa depressiva em qualquer grau é o negativismo. Os pensamentos são sempre negativos, de fracasso, de inferioridade e incapacidade para enfrentar a mais simples tarefa do dia a dia. Viver é um esforço imenso e o medo da insone e silenciosa noite assombra as manhãs de sol.
A depressão seqüestra a alma e a vontade, compromete a capacidade de trabalho, de cumprir com responsabilidades e cria um rombo na afetividade. Relacionar-se com outras pessoas, conversar, receber visitas, divertir-se, é um sacrifício enorme. Há um vazio de esperança e amor.
Infelizmente ainda hoje, apesar de toda a divulgação das pesquisas e informações sobre a depressão, muitas pessoas a tratam com indiferença, teimam em dizer que é ‘frescura’, que a pessoa deprimida está assim ‘porque quer’ ou por ‘não ter o que fazer’ e que, se quiser, pode sair da crise apenas com a decisão de fazê-lo. Outros tem preconceito à medicação , não acreditam em psicoterapia e tem aqueles que afirmam que isso jamais acontecerá consigo. O preconceito ainda ronda essa doença que não aparece nos exames convencionais da medicina. Não se constata no sangue, nem nas células, nem mesmo nos mais sofisticados aparelhos de auxílio diagnóstico como a grande maioria das doenças físicas. A predisposição genética é um fator de grande importância, mas sabe-se também que a depressão envolve alterações neuroquímicas, embora tenha fortes implicações psíquicas, emocionais e sociais.
Por todas essas razões e pela complexidade dos seus sintomas e crenças, não é só a pessoa depressiva a vítima da situação. A depressão vem para toda a família, afeta as relações mais íntimas e provoca uma multiplicidade de emoções em todos os seus membros, desde a compaixão até a raiva, da solidariedade ao sentimento de profunda impotência diante da questão. Todas as tentativas de ajuda podem não surtir qualquer efeito e assim as pessoas sofrem junto com a vítima. Isso a faz sentir-se ainda mais culpada por não conseguir reagir aos conselhos e soluções apresentadas pelos que convivem com ela, causando muito sofrimento a todos.
Então, essa longa noite escura da alma só pode ser atravessada quando seguram as nossas mãos e nos conduzem de volta à luz. À luz da consciência da necessidade do tratamento adequado a cada ser, na sua integridade. À luz do conhecimento científico que oferece inúmeras terapêuticas eficientes e eficazes, À luz das terapias integrativas e complementares que aí estão a serviço da saúde do ser humano na sua plenitude.
A família, os amigos devem ser apenas os condutores amorosos nessa jornada em busca da cura, não poderão ser os que curam, seu papel e missão é outro em nossas vidas, são as luzes que iluminam, na noite escura, o caminho que devemos construir.
Afinal, a depressão é a conspiração que a alma trama para que o ego dispa-se dos medos e culpas, da raiva e das mágoas, da arrogância e da inveja e possam enfim, EGO e ALMA viverem em PAZ seu caso de AMOR com a VIDA.

Joana Carolina Paro

Publicado em 29 de agosto de 2009 no jornal "Diário de Peapolis".

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

TEU RISO É TUA GRAÇA

Como dizia o poeta Vinícius de Moraes:

É melhor ser alegre que ser triste
Alegria é a melhor coisa que existe
É assim como a luz no coração.

A luz no coração dissipa as trevas , revela as cores , espanta a solidão . A luz que aquece o frio da indiferença, derrete o gelo do egoísmo e faz brotar as sementes da esperança, nem sempre brilha nos corações humanos.
Alegria é a forma que o humor encontrou para manifestar seu lado mais positivo e produtivo. Para a alma é o bálsamo e para o corpo, o elixir.
Por falar em humor, não há algo que provoque mais sofrimento que a falta dele em nossa vida. Seja de dentro para fora ou de fora para dentro. Não é nada fácil conviver com pessoas que vivem de ‘mal humor’, mais difícil ainda é conviver consigo mesmo sem encontrar a própria graça e expressá-la no dia a dia.
“A vida é uma tragédia vista de perto e uma comédia quando vista de longe”, dizia Charles Chaplin, que sabia provocar risos e encontrar a graça em situações improváveis, como podemos comprovar assistindo aos seus filmes.
“Rir é o melhor remédio” exatamente porque libera hormônios estimulantes como a adrenalina e a noradrenalina, acentua a freqüência respiratória oxigenando melhor o sangue e aumentando os batimentos cardíacos. Quando achamos graça, nosso cérebro produz endorfina, substância química natural que alivia a dor. Com menos dor, o clima fica mais propício para acharmos graça na vida. É um processo que se retroalimenta.
Freud, o pai da psicanálise, afirmava que o riso é uma tentativa de recuperação da espontaneidade da infância. Ele define o instante da comicidade como a eliminação temporária da censura diante da angústia e da ansiedade, assim como o sonho, o imaginário e a fantasia. Para ele, o humor funciona como uma válvula de escape psicológica, impede a pressão do recalque e nos ajuda a lidar com as angústias inevitáveis. O ‘chiste’, aquela piada ou trocadilho que somos capazes de fazer com as tragédias da vida, é uma tentativa de tornar mais leve o sofrimento que elas nos causam.
A autocrítica bem humorada é uma forma de ternura para consigo mesmo. Rir dos próprios defeitos ameniza seus efeitos e torna a vida mais leve. Treinar o bom humor no dia a dia é uma espécie de inteligência, de sabedoria que podemos fazer crescer em nós e todos temos em potencial, é preciso apenas remover as barreiras que o aprisionam.
O riso é irreverente, nos permite aceitar sem compreender, assumir tudo sem levar nada a sério, é coragem. Quando esquecemos o riso, esquecemos as canções de amor, a dança, o gozo e a beleza da vida. Só existe paz na alegria.
O bom humor fortalece o psiquismo e desenvolve a resiliência, o equivalente psicológico da resistência física, uma espécie de força mental expressa na capacidade de suportar crises, perdas ou frustrações e encontrar algo positivo mesmo em experiências profundamente dolorosas. Quem vê o lado cômico da vida costuma sofrer menos infartos ou derrames, sente menos dor e vive até quatro anos e meio a mais que as pessoas sisudas, conforme mostram as pesquisas.
Então, caros amigos, vamos buscar a nossa graça. A vida é a matéria prima, o importante é voltar nosso olhar para o inusitado, para enxergar além do óbvio, pois o humor costuma estar no desencaixe, na incoerência das situações. Não leve a vida tão a sério, ria de si mesmo, brinque com ela e vá esboçando assim a tão desejada felicidade.
Vamos distribuir alegria ao mundo, contagiar com bom humor as pessoas com quem convivemos, afinal, ser generoso é disponibilizar ao universo aquilo que temos de melhor em nós. Humor é amor em sorrisos.

Joana Carolina Paro

Publicado em 22 de agosto de 2009 no jornal 'Diário de Penápolis.

O AMOR E O MEDO

Quem nunca sentiu ciúmes que atire a primeira pedra!
Emoção universal, faz parte da condição humana desde a mais tenra idade até a morte. Uns sentem mais, outros menos. Uns conseguem controlar e outros matam e/ou morrem por ele.
A intensidade do sofrimento que o ciúme causa é determinada pelas experiências infantis e pelas vivências amorosas ao longo de toda a vida. Mais uma vez vamos constatar que a matriz das nossas emoções está na qualidade do vínculo que estabelecemos com nossos pais, mas, no amor sensual ficam gravadas as imagens daquilo que assistimos do amor entre os nossos pais. Se assistimos manifestações de carinho e respeito, acreditaremos no amor sensual, caso contrário teremos dificuldade em entregar nosso amor e confiar no casamento.
O bebê já é capaz de demonstrar o ciúme que sente pela mãe quando o pai ou irmãos ameaçam o seu reinado. O medo do abandono se traduz pelo choro do bebê quando, longe da mãe, sente-se perdido e desprotegido porque depende totalmente dela para sobreviver. O bebê chora porque sente dor verdadeira.
O ciúmes faz doer as vísceras, aperta o peito, dá nó na garganta, embola o estômago, causa insônia, depressão, ansiedade e pode desenvolver inúmeras patologias de ordem psicossomática. Isso porque junto com ele vêm várias outras emoções tão destrutivas e doloridas quanto. O medo, a raiva, a inveja, a mágoa, a culpa, o arrependimento, a desconfiança, o ressentimento...
Ciúmes é o medo da perda, o medo da rejeição, da exclusão. Ao contrário do ditado popular, ciúmes não é demonstração de amor. Ciúmes é uma emoção invasiva e como toda emoção, impossível ser evitada. Mas bem possível de ser lapidada.
As pessoas passionais, quando estão apaixonadas, muitas vezes não conseguem conter sua impulsividade diante de algum fato que gera o ciúme e tornam-se violentas, surtam, dizem coisas improváveis e jogam toda a sua ira em cima das pessoas que não querem perder. Essa agressividade acaba por destruir os relacionamentos mais amorosos quando não é reconhecida e devidamente tratada. O ciúmes pode tornar-se doentio, uma paranóia com delírios que criam uma realidade paralela de intenso sofrimento para o ciumento e para o objeto de seu ciúmes.
Em dose homeopática, o ciúme pode trazer emoção às relações, provocar o casal a reforçar o vínculo, reacender o desejo, fazer com que um cuide melhor do outro, preste mais atenção às carências de quem ama. Muitas vezes até reforça a auto estima daquela pessoa que está sendo o alvo do ciúmes, sente-se valorizada, importante, disputada. Esta necessidade leva muita gente a provocar o ciúmes do outro, consciente ou inconscientemente. Afinal, ciúmes não nasce do nada, sempre haverá algo que o justifique, aquele botãozinho que detona a bomba, aquela faísca que acende a fogueira, aquele olhar mais demorado, a atenção a mais que se dá a outra pessoa, um recadinho no Orkut, as intermináveis reuniões, a obsessão pelo trabalho e tantas outras circunstâncias onde o ciumento sente-se excluído. A reação da pessoa que provoca o ciúme poderá reforçar ou amenizar esse sentimento. Se não reconhecer a dificuldade do outro, deixá-lo só com seus fantasmas, rejeitá-lo em sua dor, poderá alimentar esse monstro que nos habita e ser engolido por ele.
Todos sonhamos com a paz no amor, queremos um alguém para a vida inteira e somos muito mais felizes quando encontramos esse amor. Mas assim que o encontramos já começamos a conviver com o medo de perdê-lo. Ao mesmo tempo encontramos o paraíso e o inferno. O amor e o medo.
Mas o amor é maior que o medo e só cresce a dois. Vamos alimentá-lo com a verdade, com o reconhecimento da grandeza do outro em nossa vida, com a valorização da sua presença, com o perdão e a profunda gratidão pela sua existência.

Joana Carolina Paro



Publiado em 15 de agosto de 2009 no jornal "Diário de Penápolis'.

PAI É PAI

Foi-se o tempo em que os papéis de pai e mãe eram bem definidos e delimitados na sociedade. Foi-se o tempo em que os papéis de homem e mulher tinham contornos facilmente reconhecidos por ambos. Foi-se o tempo de tantas outras coisas que, por décadas, foram nossas referências e verdades absolutas.
Foram as guerras e revoluções que romperam com as sólidas construções dos antigos modelos da humanidade. Depois que os homens fizeram as guerras, as mulheres silenciosamente foram ocupando seus lugares fora e dentro de casa. Do lugar da subserviência vieram as revoluções feminista e a revolução sexual protagonizadas pelas mulheres. Daí para a frente o que assistimos é a desconstrução do modelo da família nuclear e o surgimento de múltiplas formas de se viver em família.
A mãe continua a ser o eixo ao redor do qual a família gravita. Seu papel foi ampliado por ter que exercer a função do pai, na falta dele, tornando-se ao mesmo tempo provedora e disciplinadora de sua prole. Não é à toa que nosso planeta é chamado de ‘mãe’ terra, que nos acolhe e alimenta generosamente. Mas não é raro nos dias de hoje ver pais que assumem a guarda dos filhos e também desempenham a maternagem tão necessária, ampliando seu papel.
O que se cobra do pai moderno, além se estruturar a palavra de ordem dentro dos filhos, é que ele participe de todos os momentos da vida deles, que seja o modelo a ser copiado na construção do masculino nos meninos e o universo masculino a ser conhecido pelas meninas. Mesmo sem exercer o papel na sua integridade, o pai jamais perde sua importância na vida dos filhos, em tempo algum.
O que temos atualmente são homens e mulheres desempenhando diferentes papéis, independentemente do seu sexo, desmanchando, na prática, os modelos dicotômicos de papéis associados ao masculino e feminino. A paternidade tem sido permanentemente desafiada e com certeza as vivências entre pais e filhos de hoje modularão os modelos paternos futuros.
Amanhã é o “Dia dos Pais” e quero, aqui, prestar minha homenagem à todos os pais e trocar com eles algumas palavras.
Pai, saiba que independente dos seus genes e do seu nome, o que constrói e mantém os laços entre pais e filhos é o vínculo afetivo que se vive na relação. Pai é aquele que desenvolve a paternagem, mesmo que seja avô, tio, padrasto, padrinho ou amigo. A todos esses minha homenagem alcança.
Pai, o mundo quer também sua ternura, não apenas o seu trabalho. Os filhos querem seu riso solto, seu prazer em estar com eles, querem brincar com você. Querem seu olhar de aprovação quando arriscam um passo novo, sua mão forte que apóia e sustenta o risco, as asas que só você pode lhes dar.
Pai, seus filhos querem vê-lo amando e respeitando a mãe deles para que eles próprios aprendam a amar e respeitar as mulheres. Suas filhas precisam ter confiança no seu amor para que confiem no amor dos homens. Mesmo numa situação de separação entre o casal, os filhos precisam assistir uma relação de respeito e harmonia para não terem conflito em amar o pai e a mãe que já não se amam mais.
Pai, tuas críticas darão à sua prole os conceitos de certo e errado que norteiam o mundo, os valores que permearão suas escolhas. Faça-as sempre que preciso, mas nunca humilhe seus filhos quando criticá-los, jamais deixe que se sintam incompetentes para fazerem melhor. Mais que as críticas, eles precisam dos teus elogios para saberem que estão no caminho certo, que aprenderam o que você ensinou para poderem crescer.
Proteja seus filhos, pai, acolha e nutra suas idéias e seus ideais, mas não faça por eles aquilo que já podem fazer, não sufoque suas iniciativas com medo do fracasso e do sofrimento. Só é livre aquele que pode escolher por onde andar, dê-lhes a liberdade da escolha e se quebrarem a cara, ajude a recolher os cacos e curar as feridas...
Seja amigo dos filhos, mas antes de amigo, seja pai! Amigos eles escolherão pela vida a fora, podem ter muitos que vão e voltam, mas pai é você, o único com quem podem contar. Saiba ouvir seus lamentos e ofereça seu ombro, mas não se chateie se tiverem outros ombros onde recostar. Acolha os amigos deles, conheça seus hábitos, entenda as necessidades de cada idade e com isso conheça-se um pouco melhor.
Aproveite o amor dos filhos, olhe sempre nos olhos deles e aprenda a aceita-los exatamente como são. Todos podemos ser melhores do que somos e o maior núcleo de aprendizado é a família.
Enfim, viva esse papel com todo o amor que for capaz porque este é o papel mais importante da tua vida. Parabéns!

Joana Carolina Paro

Publicado em 08 de agosto de 2009 no jornal 'Diário de Penápolis'.

VIAJAR É PRECISO.

Sinto um prazer enorme só em pensar em viajar. Acredito que este prazer seja compartilhado com a maioria dos humanos, nômades por natureza mas que precisam fincar raízes por segurança e sobrevivência.
A indústria do turismo cresce vertiginosamente viabilizando viagens para todos os bolsos, o mundo ficou pequeno e é possível navegar por mares distantes em segundos através da internet. Criação do homem que antes de ser realidade foi uma grande viagem da imaginação!
A filosofia, a poesia, a música, as artes em geral proporcionam viagens inimagináveis e únicas, uma vez que cada pessoa sente o mundo segundo seu código de informações, sensações e emoções vividas.
As paisagens naturais encantam-me mais que a arquitetura das cenas urbanas, mas o grande universo por onde viajo todos os dias, por escolha de vida, é o ser humano. Esta é a minha praia, aprender para poder ajudar as pessoas a conhecerem e harmonizarem seus universos pessoais. Esta é a minha grande viagem sem volta.
Aqui, neste universo da mídia, convido os leitores a viajarem comigo.
Vamos viajar pelos caminhos de dentro...
Conhecer a paisagem interna cravada no ego e na alma pela ação dos ventos e dos homens. Penetrar nas cavernas escuras que guardam os segredos da terra, escalar montanhas de onde se pode contemplar toda a beleza e imensidão desse nosso pequeno planeta. Vamos habitá-lo com nosso espírito inocente da criança curiosa e sem preconceitos que a tudo olha com olhos de surpresa.
Viajar pelo universo humano é a maior de todas as aventuras.
Conhecer a geografia do corpo e os sentidos por onde penetra o mundo externo, conhecer a música que toca nos ouvidos como o ruído do mar nas praias ou o barulho do vento no outono. Conhecer os aromas e os sabores que despertam as sensações e memórias afetivas impressas por toda a vida. Reconhecer no abraço a carícia que o corpo pede para acalentar a alma. Reconhecer os desejos que a paixão desperta e mantém, o fogo interno com suas labaredas e força de transformação.
Vamos viajar pelos nossos ares, quais pensamentos passeiam por nossa mente? Eles nos aprisionam ou libertam? A mente não tem fronteiras, é livre para voar por onde bem entender, mas pode estar aprisionada na gaiola dos preconceitos culturais e pessoais que marcam nossa época, pode estar com as asas quebradas por uma auto imagem deformada pelo espelho de uma sociedade desigual, injusta e corrupta, contaminada pelos mitos de um mundo que privilegia o poder e a dominação. Só a mente pode nos levar às maiores e verdadeiras viagens para além dos olhos e do poder.
Expandir a consciência sobre nós mesmos é conhecer todas as potencialidades existentes nas sementes adormecidas num solo estéril. É através da mente que buscamos o alimento do conhecimento para transformar em terra fértil esse imenso jardim onde repousam muitas sementes que sequer imaginamos que flores e frutos nos trarão.
Assim como o ar que se faz vento provoca furacões e tsunamis, nossos pensamentos tem a força da vida e da morte. Condicionam a emoção, submetem os instintos às regras da racionalidade, determinam nossos desejos e medos mais secretos e norteiam as escolhas que fazemos pela vida afora. O pensamento nunca para, como o ar presente em todos os espaços, é ele quem mantém a vida na terra, porém, podemos escolher em quais pensamentos nos apegar, quais nutrir e alimentar para equilíbrio e harmonia dos outros elementos desse universo em constante transformação.
Conhecer a si mesmo é a maior conquista que podemos fazer, a viagem ao nosso interior, passando por nossos desertos e mares, penetrando florestas virgens, enchendo a alma de belas paisagens de amor infinito, e chegar àquele lugar de paz e beleza, a fonte de onde tudo flui, de onde viemos e para onde devemos retornar. O coração do universo.

Joana Carolina Paro

Publicado em 01 de agosto de 2009 no jornal 'Diário de Penápolis'.

PSICOLOGIA E CIDADANIA

PSICOLOGIA E CIDADANIA

“A semeadura é livre, mas a colheita, obrigatória”!
Gostaria de dar o crédito ao autor dessa frase, mas já foi tão usada e abusada que deve ter se tornado de domínio público. É uma verdade reconhecida e reforçada cada vez mais, tanto pelas tradições espirituais quanto pelos filósofos de plantão, e que nós, pessoas comuns, confirmamos pelos caminhos da vida.
As escolhas que fazemos são as sementes que plantamos diariamente. As palavras, as atitudes, as mais simples funções e a maneira como as desempenhamos, são nosso imenso canteiro de obras na terra.
Céu e inferno é aqui mesmo que acontecem!
Podemos escolher participar ou não do destino do lugar onde vivemos. Podemos escolher ser alguém que faz a diferença ou ser apenas alguém que passa sem ser notado pela vida. Não estou falando de grandes feitos da humanidade, estou falando de ser o melhor que se pode ser dentro da própria casa, com o próximo mais próximo, no trabalho, na vida social.
Olhamos esse mundo de violência e injustiça e ficamos indignados... Sentimos a impotência diante das crianças famintas da África e das bombas matando os meninos da ‘guerra santa’. Guerra santa!!!
Falamos mal dos governos e sacrificamos o orçamento familiar para manter os filhos na escola privada, pagar planos de saúde, colocar grades de segurança em nossos pertences materiais... Infelizmente, fazemos isso também com nossas almas... Cada vez mais fazemos nossos jardins dentro de muros imensos onde ninguém pode apreciar sua beleza, só nossos convidados especiais, aqueles que, supostamente, não pisotearão nossas flores nem roubarão nossos brotos. Temos medo dos nossos irmãos e construímos universos paralelos cheios da ilusão de que estamos separados do todo.
Enquanto isso, a educação do nosso povo fica abandonada, o sistema de saúde gravemente doente e a política cada vez mais podre e decadente como comprovamos a cada novo escândalo. As cidades, cada vez mais feias e cheia de grades, de altos muros com cercas elétricas e condomínios fechados, com as praças públicas abandonadas e tristes.
Mas... O que fazemos?
Só podemos fazer a diferença onde estamos, no local que vivemos, onde atuamos. Só podemos tornar melhor o mundo em que vivemos começando por onde estamos todos os dias. Tornando-nos pessoas melhores primeiramente na relação íntima entre nosso ego e nossa alma. Melhorando a auto imagem, a auto estima, assumindo nosso papel no mundo com generosidade.
Ser generoso é dar o melhor de si onde quer que esteja e o que quer que faça. A generosidade é uma das grandes alavancas para uma auto estima saudável e elevada, sem narcisismo e megalomania.
Temos dons e informações. Informações transformam-se em conhecimento quando as apreendemos e passam a fazer parte de nossas vidas. Conhecimento torna-se sabedoria quando o vivenciamos verdadeiramente no dia a dia. Já os dons, nos são ofertado graciosamente, como que por magia recebemos talentos que nos tornam mais hábeis que outros em determinadas questões. Todos recebemos talentos e precisamos descobri-los!
Muitas vezes só descobrimos nossos dons quando experimentamos fazer as coisas que desejamos. Se eu não cantar, jamais descobrirei se tenho talento para tal, se eu nunca tiver a oportunidade de pintar, não se revelará em mim a arte que possa estar latente.
Acredito que recebi o dom para a escrita, as palavras fluem livres e facilmente, gosto de fazer poesia e mergulhar no prazer da arte literária, mas não é a minha poesia que pode contribuir, nesse momento, para um mundo melhor. Tenho conhecimentos adquiridos durante os longos anos da minha profissão, instrumentos que as pessoas precisam para construírem um mundo melhor dentro e fora delas, e sinto que é essa a maior contribuição que posso prestar aqui onde vivo, no tempo presente. Para tal, aqui estou, ganhando espaço neste jornal que também acredita nas mesmas premissas, podendo exercitar o papel de cidadã ao mesmo tempo que desenvolvo a função social da psicologia, que é trazer ao mundo a expansão da consciência humana.
Não quero ter a sensação de falar só de coisas que eu mesma preciso ouvir. Não quero monologar com o leitor, quero dialogar e escrever sobre temas sugeridos, interagir, comunicar verdadeiramente, ouvir suas críticas e sua alma, poder corresponder às suas expectativas e necessidades.
Deixo aqui o meu e-mail para podermos nos comunicar diretamente : joanaparo@ig.com.br.
Agradeço ao jornal a oportunidade de, através deste veículo, cumprir uma parte importante da minha missão no mundo.

20 de JULHO :“DIA DO AMIGO” VIVA ! VIVA! VIVA!

‘Amigo é coisa pra se guardar
Debaixo de sete chaves
Dentro do coração
Assim falava a canção...’

De todos os sentimentos, com certeza a amizade é um dos mais cantados e declamados de todos os tempos. Foi Santo Agostinho quem disse ser a amizade "tão verdadeira e tão vital que nada mais santo e vantajoso se pode desejar no mundo".
Amizade envolve o amor, é uma relação afetiva onde estão presentes os sentimentos mais nobres do ser humano, lealdade, afeição, altruísmo, aceitação, gratidão e muitos outros que nos sustentam emocionalmente.
Não se compra, não se vende e nem se troca. Pelo contrário, a verdadeira amizade é aquela em que o amor incondicional e a confiança tecem uma trama tão forte que é capaz de vencer os mais difíceis desafios da vida.
Estar entre amigos é uma das sensações mais prazerosas que experimentamos, rir e brincar com amigos promove bem estar em todo o organismo, potencializa a criatividade e eleva o humor. Conversar com amigos sobre sentimentos íntimos pode ajudar a processar melhor as dores, levar a uma nova consciência sobre as experiências vividas, encontrar soluções e saídas para os problemas que parecem indissolúveis.
As pesquisas dizem que acumulamos cerca de 400 amigos ao longo da vida, mas que só mantemos contato por maior tempo com 10% destes. A ciência está muito interessada em estudar mais profundamente a amizade porque constatou que quem tem amigos vive mais e melhor, que a amizade é um antídoto eficiente contra os venenos da vida moderna, é vitamina para a saúde e para a carreira profissional.
Quem cultiva amizades profundas e verdadeiras durante a vida não sofre de solidão e isolamento, naturalmente tem menos depressão. A medicina também constatou que quem tem amigos tem menos problemas cardíacos e o sistema imunológico mais eficiente porque o sistema límbico, responsável pelas emoções, está interligado ao sistema neuro-endócrino, que age na defesa do organismo. Essa combinação ajuda no bem-estar geral das pessoas.
Um dos maiores levantamentos já feitos sobre o efeito das amizades na vida prática é do pesquisador americano Tom Rath, coordenador de pesquisas da Gallup Organization, um dos maiores institutos de pesquisas do mundo. Rath se valeu de parte do banco de dados da instituição – foram cerca de 9 milhões de entrevistas feitas em 114 países – para identificar a relação entre amizade e satisfação profissional. O resultado está no livro O Poder da Amizade. Segundo ele, quem tem um grande amigo no trabalho é sete vezes mais produtivo, mais criativo e mais engajado nas propostas da empresa do que aquele funcionário que não consegue se relacionar com os colegas. Quem tem três bons amigos apresenta 88% de chance de ser mais feliz na vida pessoal do que o sujeito isolado ou tímido. Só o fato de ter amizades sólidas com os colegas de trabalho aumenta em 50% a satisfação e motivação.
Então, como já diziam os filósofos da antiguidade e hoje comprovam os cientistas, a amizade é uma experiência humana de vital importância!
Ter amigos de verdade dá estabilidade e segurança emocional, com amigos de verdade pode-se contar em qualquer circunstância, nas horas de sofrimento como nas grandes alegrias, há uma tendência a desejar tudo de bom e fazer o melhor que se pode um ao outro porque os amigos potencializam aquilo que cada um tem de melhor em si.
Todo ser humano anseia por amigos verdadeiros, mas muitos tiveram experiências negativas e passaram a não acreditar na amizade fechando-se a novas possibilidades, endureceram e protegem-se do mundo refugiando-se em mágoas e preconceitos que só causam desamor e isolamento. A esses quero falar bem de perto... Desapeguem das mágoas, da raiva, do ressentimento. Deixe no passado todo o lixo emocional que não serve a nada no presente, é o veneno que contamina as células e mata a esperança!
Deixe que o sentimento de amizade ilumine, como o sol, a noite escura da alma.
A todos, desejo muita amizade! Amizade profunda, verdadeira, leve e divertida, além dos amigos, amizade com o pai, com a mãe, com os filhos, irmãos, cunhados, sobrinhos, amizade com a pessoa com quem vive o amor sensual, porque sem a amizade essas relações são frágeis e formais, perdem o sentido e a força.
Aos meu amigos queridos, minha profunda gratidão, toda minha inspiração, meu amor infinito.

Joana Carolina Paro

Publicado em 18 de julho de 2009 no jornal 'Diário de Penápolis'.

Espelho, espelho meu...

Não posso furtar-me a escrever sobre um dos temas mais importantes de nossas vidas diante da morte precoce de um ídolo mundial e do fenômeno de sua metamorfose. Sua história ilustra perfeitamente os conceitos de várias teorias psicológicas e fundamenta a busca pela ‘imagem perfeita’ a qualquer custo.
Michael Jackson jamais ficou satisfeito! Para além do espelho, as lentes da ‘auto estima’ deformavam a sua imagem.
A auto estima é a lente através da qual vemos o mundo. Esta lente é construída a partir da imagem que temos de nós mesmos. Se apreciamos essa imagem, aceitamos e gostamos dela, então nossa auto estima é elevada, caso contrário, se depreciamos e rejeitamos a imagem que fazemos de nós, nossa auto estima fica extremamente rebaixada. Este é o julgamento mais importante que fazemos em nossas vidas, o julgamento que fazemos de nós mesmos, porque é através dele que julgaremos o mundo e também as pessoas que nos rodeiam. Acreditaremos que todo o mundo nos vê como nós próprios nos vemos. Se não gosto de mim, acredito que ninguém possa gostar, mas se sou capaz de aceitar-me como sou e amar meu ser como um todo, acredito que o resto do mundo também possa fazê-lo.
A auto estima tem suas bases na infância. As principais referências de importância quem dá ao ser humano são os seus pais. A maneira como se relacionam, olham, cuidam, acolhem, educam; as palavras que dizem aos e sobre os filhos, constroem a imagem que a criança tem de si mesma. Se aprovada, sente-se importante e amada, se desaprovada, sente-se incompetente e rejeitada, acha-se má, incapaz de ser amada.
O pai de Michael Jackson era severo demasiadamente e nunca dava sinais de reconhecimento e aceitação aos filhos, dizia ao Michael que era feio e parecia um macaco, humilhava a criança talentosa e espontânea que, como toda criança, precisa e persegue a aceitação e o amor dos pais, a vida toda...
Pela vida, outras referências serão quase tão importantes quanto a dos pais, cada qual a seu tempo. Os professores, os amigos de adolescência, os ‘amores’, trarão novos contornos a essa imagem da infância, poderão melhorá-la e ajudar a modificá-la a ponto de construir verdadeiros sentimentos de importância, competência e pertinência, tão vitais na manutenção de uma auto estima saudável.
Porém, quando nos tornamos adultos e responsáveis por nós, a referência de nós mesmos tem que ser interna, não pode mais ser externa. Auto quer dizer próprio, auto estima é o amor próprio, o amor que cada um deve ter por si mesmo, independente daquilo que os outros possam pensar ou julgar. Esse sentimento sempre estará baseado na importância que cada um dá à sua própria existência, em quanto se julga competente em todos os papéis que desempenha na vida, seja de filho ou de mãe, de amiga, o papel profissional,o de amante ou de marido, enfim, são essas duas noções, de importância e competência aliadas, que mantém as oscilações naturais da nossa auto estima.
Com a auto estima elevada, sentimo-nos no direito e merecimento de sermos felizes e realizarmos nossos sonhos, permitimo-nos experimentar e errar para aprender, podemos rir de nós próprios e tornar mais leve o fardo das culpas, não colocamos nossas vidas nas mãos de qualquer um. Ao contrário, quando a auto estima é falha, o julgamento sobre si mesmo é tão pesado que só há um caminho, a condenação e a consequente punição a través da infelicidade e solidão das escolhas erradas.
Não é a busca pela ‘imagem perfeita’, seja ela objetiva ou subjetiva, que transformará esse sentimento dentro do ser humano... Os padrões de beleza e comportamento estabelecidos na sociedade, serviram e servirão sempre ao poder, seja o poder do dinheiro ou da sedução, efêmeros valores que jamais foram capazes de sustentar a felicidade.
Tudo que precisamos para manter uma adequada auto estima, é começar aceitando aquilo que não dá pra mudar. Não dá pra mudar nossos pais, nem a história que já vivemos... Não dá para mudar nossa genética mas sim nossa consciência!
Precisamos aprender a deixar no passado tudo que nos incomodou um dia, perdoar para nos livramos do lixo emocional das mágoas, desapegar do sofrimento, da raiva, dos preconceitos, dos julgamentos... Perdoar nossos próprios pecados...
Silenciar as vozes que ainda nos julgam e aceitar aquilo que pudemos ser, entendendo a dinâmica dos relacionamentos, podemos fazer novas escolhas, podemos deixar o destino herdado e, a partir dele, construir o destino escolhido.
E só então, deixaremos de ser vítimas para sermos heróis da nossa história, há dois caminhos a seguir, o caminho da vítima do mundo e de todos, e o caminho do herói que enfrenta as batalhas, ganha, perde, cai, levanta, aprende e cresce... Mas jamais desiste de ser feliz!
A escolha é de cada um, e precisa ser uma escolha consciente!

Joana Carolina Paro

Publicado em 11 de julho de 2009 no jornal 'Diário de Penápolis'.

O FURACÃO DA ADOLESCÊNCIA

Gosto de pensar por imagens, assim como fazem as crianças, além de ilustrativo e lúdico, permite um entendimento mais amplo das questões.
Todas as vezes que falo sobre adolescência, a fase mais dinâmica do desenvolvimento físico e mental do ser humano, relaciono à imagem de um furacão. Imagine um furacão passando pela tua casa, tirando tudo do lugar, destelhando , arrancando janelas, quebrando portas, fazendo estragos... Imagine um furacão que pode durar alguns anos para passar. Isso é a adolescência!
Nessa época da vida as mudanças no corpo são drásticas, os chamados ‘estirões’ fazem com que os adolescentes percam a noção de seu esquema corporal, e a invasão dos hormônios da sexualidade provocam sensações novas e emoções jamais vividas. Mudam os interesses, muda o humor, o comportamento, as reações diante da família e sociedade, mudam as roupas, a pele, a fala... Aquela pessoinha criança que até então existira está deixando de existir, está partindo para sempre, e esse adolescente que surge, não sabe quem é ao certo, nem sabe que vive o luto pela perda desse corpo infantil, pela perda dos pais da infância, pela perda de sua identidade e papel sócio-familiar infantil. São muitas perdas de uma só vez. E o sofrimento é inevitável!
Tantas mudanças repercutem diretamente na evolução da personalidade, mas durante o período de transição o adolescente oscila entre comportar-se ora como criança ora como adulto, assim como também os pais oscilam em como tratá-lo.
Pois é, este furacão que passa pela vida dos adolescentes atinge também a vida de seus pais que já não estão mais no controle da vida dos filhos. Daí por diante eles têm escolhas próprias e brigarão por elas, para construir sua própria identidade podem passar pela ‘desconstrução’ dos valores e esquemas familiares que até então lhes deram todas as referências de ser quem é. Para tornar-se um indivíduo é necessário separar-se dos pais, e para separar-se dos pais é preciso encontrar sua tribo, a turma, os amigos, que passam a ser sua nova fonte de identificação.
‘Por algum tempo o/a adolescente experimenta vários papéis, identificando-se com diferentes figuras ou grupos do seu meio social e assimilando valores e papéis fora do meio familiar. Nesta etapa da vida pode-se assumir diferentes identidades, que podem ser transitórias, ocasionais ou circunstanciais. Tudo numa mesma pessoa que começa a sentir e necessita entender a sua intimidade’.
Os pais observam todo esse movimento, muitas vezes com angustia, principalmente quando se sentem perdendo seus filhos para um universo que eles não escolheram e não concordam, quando existem conflitos e os confrontos causam feridas maiores, distanciando-os afetivamente. Sem saber como lidar, os pais podem variar entre a permissividade extrema e o autoritarismo militar tolhendo toda a liberdade. Nenhum dos extremos levará ao entendimento, mas, se sabem o que esperar dos filhos nessa fase, sem lançar expectativas irreais em cima desses seres em desenvolvimento vertiginoso, por certo tornarão mais brando esse longo caminho de construção do EU.
Apesar do meio sócio-cultural dos adolescentes apresentarem diferenças de comportamentos, podemos esperar algumas características fundamentais além da busca de si mesmo e da identidade; da tendência grupal e das atitudes reivindicatórias já bem conhecidas. Os adolescentes têm necessidade de intelectualizar e de fantasiar, têm crises religiosas, apresentarão sucessivas contradições em todas as manifestações de conduta porque a conduta está dominada pela ação, sofrem constantes flutuações de humor, um sentimento básico de depressão e ansiedade acompanhará, como substrato, permanentemente o adolescente. Experimentará a solidão e o medo da rejeição consciente. Armará todo seu arsenal de mecanismos de defesa para proteger-se do mundo, mas nada disso evitará seu sofrimento...
Poder aceitar que os filhos vieram para contestar e ajudar os pais a crescerem, poder aceitar a ‘anormalidade’ habitual do adolescente, vista desde o ângulo da personalidade idealmente sadia, permitirá aos pais uma aproximação mais produtiva a esse período da vida. Somente quando o mundo adulto o compreende adequadamente e facilita a sua tarefa evolutiva o adolescente poderá desempenhar-se correta e satisfatoriamente, gozar de sua identidade, de todas as suas situações, mesmo das que, aparentemente, tem raízes patológicas, para elaborar uma personalidade mais sadia e feliz.
Do contrário, sempre se projetarão no adolescente, as ansiedades e patologias do adulto e se produzirá o colapso ou a tal crise de confronto de gerações, que dificulta o processo de crescimento de pais e filhos.
Aos pais, firmeza e amorosidade para dar chão sem cortar as asas, dar limites sem tolher a liberdade de escolhas e experiências saudáveis. Aos pais, equilíbrio na sua própria vida e emoções, olhar nos olhos dos filhos, poder ouvir e calar, não invadir sem pedir licença, mas marcar sua presença como o porto seguro para onde sempre se pode voltar.
Voltando ao furacão, tudo está fora do lugar, mas está tudo lá, o alicerce esta lá, se for firme os estragos terão sido bem menores, se for frágil, é tempo de reforçar. Juntar os destroços, o que ficou inteiro, o que precisa reformar, jogar fora o que já não serve e para o que fica, escolher um novo lugar. Árdua tarefa!
De todo esse caos, só o amor é capaz de esperar pacientemente o furacão passar, dando o tempo das transformações construírem uma nova relação, onde a amizade, o diálogo, o respeito, a verdade e a ética norteiem e reforcem ainda mais o amor.

Joana Carolina Paro

Publicado em 04 de julho de 2009 no jornal "Diário de Penápolis".