quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

ALEGRIA COM LAÇO DE FITA

Daqui da morada dessa alma inquieta, onde um coração apaixonado pede vida, e vida plena; a mente que nunca silencia, sussurra baixinho uma canção dos natais da infância...


Vejo-me completamente contagiada pelo espírito deste tempo! Minhas retinas ainda guardam as imagens dos pacotes de presentes que esperávamos o ano todo, debaixo de um pinheiro enfeitado de bolas e luzes. Era a minha mãe quem preparava carinhosamente, cheia de surpresas para encantar nossos olhos e nossas almas. Meu coração ainda sente a ternura e o aconchego da família inteira reunida em festa, a celebrar o nascimento do ‘menino Jesus’, aquele bebê peladinho bem no centro do presépio que as crianças nunca podiam pegar para brincar . Meu corpo detém o calor dos abraços, os cheiros dos assados e o doce presente de natais cheios de colos de amor.


Acredito que é por isso que até hoje, em todos os natais, procuramos estar em família, com árvore enfeitada e presentes, celebrando a benção do AMOR que CRISTO veio ensinar ao seres da terra, exercitando este amor humano que somos capazes, permitindo os encontros e abraços, os desejos de felicidade, o reconhecimento da importância de cada um de nós na vida uns dos outros, agregando os amigos conquistados no caminho, convidando esta nossa família escolhida a compor uma grande e fraterna ‘comum-unidade’ que se reconhece e se fortalece na AMIZADE. Amizade entre irmãos, entre pais e filhos, entre sobrinhos e tios, primos, entre marido e mulher, namorados, amigos, velhos e novos amigos a alimentar nosso ser carente de afetos.


Bem sei que muitas pessoas trazem lembranças dolorosas de datas como esta, ficam tristes, deprimidas, negam-se a participar e a comemorar a vida com outras pessoas. Elas não acreditam serem capazes de experimentar sensações novas, construir aqui e agora, neste tempo presente, uma história melhor para si mesma e para as pessoas que as amam e se importam verdadeiramente com seu bem estar e felicidade. Outras pessoas, que tiveram perdas significativas, por vezes fecham-se em tristeza na lembrança de seus mortos esquecendo-se de agradecer a presença e a vida dos que estão juntos, deixam de honrar com sua força e alegria a memória de quem partiu... Não podemos alimentar nossa alma de ressentimentos, ‘re-sentimentos’, ruminar as emoções amargas que nos fazem perder a essência do AMOR DIVINO que brilha em nós e salva-nos da mediocridade e da solidão, fechar as portas e as janelas da nossa morada para a entrada do sol!


O melhor presente que podemos oferecer às pessoas não vem no belo pacote com laço de fita, o melhor é nos tornarmos um “presente” na vida das pessoas, aquele presente que elas sorriem quando chega, recebem sempre com um abraço e cheias de contentamento porque oferecemos tudo aquilo que temos de melhor em nós.


Podemos ser o presente da autenticidade, sem medo das nossas verdades, sem preocupação com as críticas, permitindo ao outro ser aquilo que ele é, ser transparente e verdadeiro sem medo do erro. Podemos ser o presente do acolhimento sem julgamentos, sem preconceitos e valores que não cabem na realidade, ser o silêncio que escuta um coração ferido expor seus pecados e enganos, ser a palavra que leva luz à consciência em momentos de completa escuridão, mesmo que doa, ser o ombro aconchegante, o colo quentinho, o porto seguro que oferece abrigo em tempos de vendaval.


Mas antes de nos tornarmos um presente para o mundo, precisamos ser generosos com nosso próprio EU. Presentear a nossa vida com tudo aquilo que merecemos e desejamos encontrar fora de nós. Presentear com o PERDÃO que limpa nossas mágoas e leva com elas a dor de não poder amar... Presentear com a COMPAIXÃO que torna menos pesado o imenso fardo da incompreensão, como um carinho que afaga a alma e adoça o amargo dos fracassos e das decepções, trazendo mais leveza aos nossos dias.


Que por toda a vida, façamos brilhar nosso AMOR incondicional em forma de solidariedade e fraternidade a inspirar todos os nossos atos, como um presente de GRATIDÃO ao grande mistério que é a VIDA e todas as suas manifestações.


Entreguemos de presente à vida a nossa ALEGRIA, o mundo precisa dela para ser um lugar melhor. Só com alegria podemos servir mais e melhor a humanidade!


Aos meus queridos leitores e leitoras, desejo que o Natal lhes traga o presente da CONSCIÊNCIA CRÍSTICA e a BEM-AVENTURANÇA de saber-se tão enorme quanto AMAR lhe torna capaz.















domingo, 13 de dezembro de 2009

CAPOEIRA DO AMOR

A VIDA é mesmo uma BENÇÃO constante! Quando o mundo parece ruir em valores e afetos, quando a esperança é uma bandeira rasgada a meio-fio, quando o AMOR é colocado na gaveta da cômoda do egoísmo, então surge uma luz a iluminar um novo ângulo, uma nova perspectiva da realidade que se apresenta. E tudo se renova!
Dezembros trazem belos presentes a quem os reconhece. Transforma em festa a vida na terra celebrando o nascimento do filho do céu! Renova a esperança na chegada desse novo tempo, onde o espírito do AMOR DIVINO se instale nos corações humanos e se manifeste em atos de solidariedade, compaixão, aceitação e transcendência...
A primeira sexta-feira de dezembro trouxe-me um belo presente, fui deliciosamente surpreendida com o BATISMO DE CAPOEIRA dos alunos da APAE de Penápolis, e entre eles, minha irmã que fez sua dança em uma cadeira de rodas, empenhada e feliz como se realizasse saltos e piruetas!
Os alunos, crianças de todas as idades, em seus trajes brancos e descalços, portavam no olhar o brilho de um grande acontecimento! O grupo de capoeira responsável pelo trabalho preparou uma festa de gala, trouxe seus convidados especiais, mestres, graduados e aprendizes para que este grande dia pudesse coroar de surpresa e alegria a alma de todos.
Reinava no ar a mais perfeita sintonia que faz os corações humanos baterem juntos ao som dos atabaques, na ginga dos berimbaus, na roda onde o menino busca no olhar do padrinho a certeza de poder ousar, de poder alçar vôos profundos. E o padrinho transmite a segurança com afeto e cuidado, e no olhar o mesmo brilho de todas as crianças.
Assim, o jogo da capoeira se fez com a DANÇA DO AMOR entre homens, mulheres e crianças vibrando juntos aquela energia que derruba fronteiras, que une as diferenças e quebra os preconceitos. A energia do ritmo afro que corre em nossas veias através de toda a história, de cada pedaço deste nosso país, das nossas células que vibram e nos lembram de quem somos. Éramos um mesmo coração pulsando todo o amor que cada dezembro tem a intenção de nos ensinar... Corações renovando sua fé no poder de superar limitações, no poder da arte na transformação da vida, fé na criatividade que o ser humano pode ter na busca de soluções mais humanas e coerentes para um sistema educacional que precisa resgatar sua verdadeira missão na evolução dos tempos.
Minha alma agradece profundamente, cheia de emoção e desejos de vida plena e felicidades, a todas aquelas pessoas que promoveram este maravilhoso trabalho, que nos sirva de inspiração para aprender a amar mais e melhor todas as criaturas deste universo. Assim e só assim, viveremos verdadeiramente na terra, a mensagem do céu!

sábado, 5 de dezembro de 2009

EROS FERIDO

A realidade se passa exatamente entre os opostos, a vida se dá paradoxalmente no limite e nós, pobres humanos, suspensos na corda bamba das ilusões, corporificamos todos os conflitos nascidos dos conceitos que dividem o mundo entre o BEM e o MAL.
Um dos aspectos que mais sofre a ação direta desses ‘pré-conceitos’ é a sexualidade humana, através das inúmeras disfunções sexuais que comprometem a vida amorosa e a plena vivência do maior prazer que o corpo pode experimentar em parceria com a mente e a alma, na companhia de outra pessoa.
Pesquisas atuais revelam que quase metade dos homens e mulheres apresentam insatisfações e disfunções sexuais diversas. Nos homens, as principais queixas estão ligadas à dificuldade de ter ou de manter a ereção durante o ato sexual, o que impossibilita o orgasmo. Outra queixa é a ejaculação precoce, a ejaculação retardatária ou mesmo a falta dela, comprometendo, muitas vezes, a qualidade da vida sexual do casal e provocando muita angústia e ansiedade para o homem, o que só faz piorar os sintomas. Dores no ato da penetração são bem raras nos homens e mais comum nas mulheres, porém não é a principal queixa do universo feminino. O problema mais comum entre elas é a falta de desejo e excitação sexual, a falta de lubrificação vaginal que é provocada pela excitação e sem a qual a penetração torna-se incomoda e dolorida. Outra queixa é a dificuldade ou falta total do orgasmo, o clímax, a celebração máxima do ato sexual!
Estudos cada vez mais aprofundados sobre a origem dos problemas sexuais nos humanos, remetem-nos à um passado onde os mitos e crenças populares sobre o sexo ainda permeiam o imaginário coletivo e individual, gerando as atitudes, o modo de pensar, sentir e agir, resultante do potencial herdado, do meio físico, sociocultural e sobretudo, das experiências afetivas vivenciadas durante toda a vida nas várias fases do desenvolvimento da libido.
Embora não se possa eliminar a possibilidade de causas orgânicas, genéticas e congênitas das disfunções sexuais, como também aquelas provocadas por efeitos colaterais de medicamentos, adição de drogas, alcoolismo, estresse e transtornos de humor, devemos considerar seriamente os mitos sexuais que determinam o padrão de sexualidade de cada pessoa. Esses mitos são um conjunto de idéias com forte conteúdo emocional que se impõem como verdades. Apresentam uma realidade distorcida, sem qualquer valor científico, carregada de superstições, mentiras e fanatismo. Infelizmente são mantidos por uma educação sexual falha e cheia de preconceitos.
Outro fator que predispõe às disfunções sexuais é a falta de conhecimento sobre a anatomia, a fisiologia e a diferença entre a resposta sexual masculina e a feminina. A repressão sexual intensa nas mulheres faz com que muitas delas nunca tenham tocado seu próprio órgão genital, desconhecem os pontos que lhe proporcionam maior prazer e excitação e não se permitem o auto-erotismo e as fantasias sexuais que estimulam o desejo e a excitação. Por outro lado, o homem é super estimulado sexualmente . O mito de ter que estar sempre pronto para o sexo e jamais falhar, provoca equívocos fundamentais na sua postura e desempenho diante do amor sensual.
Este é o palco onde ensaiamos a dança da nossa sexualidade, onde experimentamos as mais intensas emoções proporcionadas pelo AMOR sensual, onde depositamos altas expectativas de realização conjugal. É muito importante para a vida do casal haver harmonia e intimidade no encontro sexual, momentos de entrega total, carícias intensas, beijos apaixonados... Esse encontro dissolve conflitos e dissabores cotidianos além de derramar uma cachoeira de hormônios que nos trazem sensações de plenitude, alegria, bem estar e relaxamento.
Mas... A sexualidade do casal é uma construção constante e sua manutenção depende de muitos outros ingredientes tão importantes quanto o desejo e o bom desempenho. O afeto, o respeito, a atenção às necessidades um do outro, o diálogo franco, o companheirismo, a cumplicidade, solidariedade, a amizade, a liberdade de manifestação dos sentimentos, o cuidado com a sensibilidade da pessoa amada, a confiança e a segurança de ser aceito como se manifesta no momento, fazem toda a diferença. O cuidado com o AMOR é o melhor adubo para o florescer constante da sexualidade!
As insatisfações sexuais devem ser tratadas pelo casal, mesmo que estejam localizadas em apenas um de seus pares. A crise na sexualidade deve ser enfrentada sem preconceitos que camuflam e distorcem a realidade, provocando ainda mais desencontro e sofrimento. Buscar profissionais e informações adequadas, provocar mudanças de conceitos e hábitos, livrar-se de mitos e crenças que já não fazem sentido, rever contratos conjugais e não se deixar sufocar pela rotina dos casamentos duradouros, são os grandes ganhos que podemos ter com as crises da sexualidade. Afinal, o corpo não mente nunca e denuncia nossos enganos. Toda crise é a medida de segurança, o sinal de alerta para salvar a nossa VIDA!

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

FOGO ARDENTE

Paixão é uma fogueira acesa ardendo no corpo e na alma... Fogos de artifício iluminando o céu, celebrando a chegada de um novo começo ! Acontece em qualquer tempo da vida e é sentida de forma semelhante em todas as idades.
Paixão é energia libidinal manifesta no corpo em forma de desejo, na mente em forma de posse, no coração em forma de esperança de amor eterno. Os apaixonados vivem o sonho do amor romântico perfeito, do “felizes para sempre” sem absolutamente nada que possa macular esse sonho, navegam tranqüilos no universo paralelo da ilusão e da fantasia. Por todas essas razões, a paixão é bem característica da adolescência, tempo da descoberta do amor sensual e dos prazeres da libido, fazendo vibrar nas células toda a ansiedade do amanhã.
Força de vida e de morte, a paixão também provoca sofrimento. Ciúmes... Medo da perda... Dependência do outro... A falta dela, após experimentar seus encantos e venenos, cava um buraco negro e vazio no peito e nada é capaz de preencher. Por vezes um longo período de depressão e/ou ansiedade. Outras vezes, uma profunda saudade.
Diz a psicologia que não nos apaixonamos pela outra pessoa, mas sim pelo que ela nos faz sentir. Projetamos no ser amado todos os nossos sonhos, nossas melhores qualidades e expectativas, tudo que temos e queremos de bom. Então introjetamos deste ser, aquilo que projetamos nele, só vemos o que queremos ver, a beleza, o carinho, o ideal, o sonho...
Já observaram como a pessoa apaixonada fica mais bonita ? Com um brilho intenso nos olhos, sorriso permanente entre suspiros que denunciam um estado de graça quase divino. Torna-se amável, generosa, de bem com a vida! Tem disposição para o trabalho e para o lazer e faz isso tudo com prazer?
Que delicia estar apaixonada! Estimula a criatividade, provoca a inspiração, brotam palavras de amor e poesia. Cânticos ecoam nos labirintos harmonizando a dança dos corpos no encontro das almas...
Paixão é braseiro em chamas queimando a razão ! Tirando o chão, roubando-nos de nós. Estudos científicos demonstram que a paixão é um ‘enlouquecimento’, é quase uma doença, uma obsessão.
Mas passa. Consome-se em si mesma. Transforma-se.
Pode transformar-se em decepção, em mágoas ou raiva, na rejeição pode transformar-se em ódio e desejo de vingança, mas pode também virar indiferença e depois de um tempo ser esquecida.
Outra possibilidade é transformar-se em amor genuíno e sensual. Retiradas as projeções de nossas expectativas sobre o ser amado, podemos vê-lo exatamente como ele é, contemplar o outro com todas as suas nuances e verdades, sem lentes que o deformam, sem espelhos refletindo nossa própria imagem alterada.
AMOR e PAIXÃO são coisas bem diferentes, mas as confundimos o tempo todo, e por conta desta confusão, nossa alma sofre, desorganizando nossa emoção.
Paixão pede sexualidade, mantém o desejo sexual sempre em alta. Esta é a função da paixão na preservação da espécie, garantir o desejo que provoca o ato da criação da vida! Sem desejo não há ereção, não há orgasmo, não há entrega dos corpos e desejo de perpetuação. Nesse aspecto o ciúmes , as brigas, as breves separações têm o papel de reacender a paixão frente à ameaça da perda do objeto amado. É também a falta de desejo o maior problema nas disfunções sexuais tanto masculinas quanto femininas.
A paixão e o sexo nos dão sensações de muito prazer e forte emoção, mas não nos promovem felicidade. O sentimento amoroso é que nos ilumina a alma e aquece o coração com sonhos de eternidade! É o AMOR para toda a vida que buscamos para nos trazer segurança e conforto à alma, base para nossa idealizada felicidade.
A PAIXÃO não sobrevive, com a mesma pessoa, sem o AMOR, ela tem prazo de validade. Muitas vezes termina junto com o orgasmo.
O AMOR permite que muitas vezes a fogueira da PAIXÃO faça arder novamente, no mesmo coração, todo o desejo de manter-se em profunda união com a pessoa amada, o sexo reveste-se do sagrado e a intimidade e cumplicidade na fusão dos corpos, promove um prazer que vai além dos sentidos... Depois do orgasmo, o carinho, os olhos nos olhos, os corações batendo juntos, o sorriso de profunda gratidão...

O AMOR quer PAZ mas pede PAIXÃO!

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

A ENERGIA DA CRIAÇÃO

A Libido é a energia mais poderosa que atua no instinto do ser humano. É a energia de vida, de criação, a energia sexual do desejo que garante a atração entre macho e fêmea, e assim, a preservação da espécie. Esse instinto de preservação, presente em todos os animais, é também responsável pela sobrevivência e defesa da vida na terra.
Todos sabemos que na Pré-história as relações sexuais humanas seguiam as leis naturais que regiam o instinto de todos os animais, porém, por nascerem e permanecerem por muito mais tempo frágeis e dependentes de cuidados, os humanos foram construindo suas comunidades onde o modo de vida priorizava a garantia da sobrevivência. As mulheres cuidavam da prole e com sua receptividade sexual através da copulação, mantinham seus homens no lar, interessados nos filhos e garantindo, através da caça coletiva dos homens, o suprimento para suas famílias.
Nas sociedades primitivas tanto podia existir a monogamia como a poligamia regular ou ocasional, e até a abstinência sexual enquanto se esperava que o bebê atingisse alguma autonomia. A poligamia era aceita sempre que as comunidades precisassem se expandir e enquanto houvesse recursos para sustentar as famílias. A monogamia assegurava a concentração dos bens. Nas sociedades contemporâneas a monogamia continua a ser o tipo predominante de união conjugal, mas segundo os estudiosos do assunto, muito mais por questões culturais e econômicas do que biológicas.
De lá para cá, muitas, mas muitas revoluções alteraram o curso deste rio da sexualidade que jorra em nós suas águas de prazer e dor!
Desde a descoberta da paternidade e o fim do matriarcado, desde as pinturas e esculturas gregas enfatizando as delícias do sexo hetero e homossexual, desde o Kama-Sutra e o Jardim das Delícias que, há vinte séculos eram verdadeiros tratados de prazeres sexuais, desde a Inquisição, no fim do século XII, onde o sexo foi considerado ‘obra do demônio’ e cruelmente combatido pela igreja católica, condenando milhares de mulheres à fogueira por serem atraentes e sedutoras e portanto, suspeitas de bruxarias e relações com o diabo, fomos construindo novos paradigmas da sexualidade a cada tempo, chegando ao século XIX onde a repressão sexual atingiu seu auge. O casamento foi legalizado, a prostituição recolheu-se a recintos fechados, a masturbação foi considerada prática anormal e repelida, estátuas e quadros de nus foram cobertos em suas partes íntimas como uma repressão frontal aos desejos sexuais. E então, surge FREUD, médico com uma visão inteiramente nova, tendo como objetivo pedagógico conhecer o desenvolvimento sexual da criança, sua fisiologia e o controle dos nascimentos.
Foi só no início do século XX que as indagações e pesquisas de Freud na área da sexualidade humana, embora ainda fosse um assunto ‘vergonhoso’ de ser tratado, vieram quebrar com o mito do pecado e iluminar a importância da sexualidade nas relações diárias dos indivíduos e no desenvolvimento da personalidade do ser humano.
Graças à grande contribuição e abertura do Mestre Freud, hoje sabemos que a sexualidade nasce e morre com o ser humano, não se inicia na puberdade e não termina com a menopausa ou andropausa. É consenso entre os pesquisadores da área, que as práticas sexuais estão submetidas às influências biológicas, à época e cultura que vivemos, à fase da vida e condições físicas e psicológicas que os indivíduos se encontram.
As mulheres fizeram sua revolução sexual e garantiram seu direito ao orgasmo e à liberdade sexual através dos métodos anticonceptivos e da revolução feminista de igualdade de direitos. Homossexuais saíram às ruas assumindo seu direito de amar seus iguais sem preconceitos. O erotismo hoje é assunto de domínio público e estampa a maioria das propagandas na mídia. As doenças sexualmente transmissíveis são cada vez mais fatais e a performance sexual virou obrigação de todos. No meio dessa profusão de novos valores e conceitos, a insatisfação sexual aumenta, as disfunções sexuais em homens e mulheres aparecem com mais freqüência e a infelicidade conjugal fica ao sabor das ilusões e fantasias que já não cabem mais.
Nossas células e nosso inconsciente coletivo ainda guardam a história dos nossos ancestrais, nossas experiências nas relações amorosas e sensuais traçam os contornos que nos fazem ser o que somos. O AMOR que aprendemos e a PAIXÃO que nos incendeia as entranhas e traz promessa de felicidade à nossa alma, são os ingredientes que dão sentido e valor à vida amorosa sensual de todos nós, seres emocionais.
Por todas essas razões e pela complexidade e abrangência do tema, estarei abordando a sexualidade em uma série de artigos a partir deste, onde pretendi apenas apresentar o cenário onde protagonizamos nossa história atual. Desejando, cada vez mais, oferecer instrumentos à reflexão, ao auto-conhecimento e ao desenvolvimento das plenas possibilidades individuais para uma vida saudável e feliz.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

AS DORES DAS PERDAS

Morte não é o contrário de vida, é apenas um dos aspectos dela. Opostos são nascer e morrer. A VIDA se faz desta seqüencia interminável de nascimento, morte e renascimento.
Apesar de sabermos que a única coisa certa na vida é que tudo que nasce, morre um dia, ainda sentimos, diante da morte, as emoções mais doloridas que podemos experimentar. Tememos o desconhecido, tememos a escuridão e a solidão, temos medo de sentir medo... Medo da morte de quem amamos, do abandono e da saudade que a ausência faz lembrar, da dor insuportável da separação e da perda!
Nossas células guardam a memória de todas as separações que vivemos ao longo da vida, nossa alma chora enquanto nosso ego se dilui quando voltamos a ser aquela criança que só é plena em simbiose com a mãe, na bem-aventurança oceânica do útero materno.
O parto é a primeira separação que experimentamos, quando nascemos para a vida externa estamos perdendo o paraíso da segurança e da união com a mãe. Nascemos dependentes dela para nossa sobrevivência e bem estar, a proximidade e o vínculo afetivo são a base de sustentação de todo o nosso desenvolvimento emocional. Transferiremos às nossas relações futuras os mesmos sentimentos, medos e expectativas que vivenciamos na conexão primordial com a nossa mãe. Separações graves no início da vida deixam sérias cicatrizes emocionais porque afetam profundamente esta conexão humana essencial que nos ensina que somos dignos de sermos amados. É o elo mãe-filho que nos ensina a amar.
Mas, naturalmente tem que haver as separações nos primeiros anos de vida, mães e filhos devem ter suas vidas independentes também uns dos outros para o crescimento e fortalecimento de ambos, e sem dúvida produzirão tristeza e dor. Mas as separações dentro do contexto de um relacionamento afetuoso e estável, dificilmente deixarão cicatrizes no cérebro das crianças. Mães que trabalham, viajam, estudam, podem estabelecer um relacionamento amoroso, confiante e harmonioso com seus filhos. Quando a separação põe em perigo aquela ligação primeira, torna-se difícil criar confiança, adquirir segurança e a convicção de que durante a nossa vida encontraremos – e merecemos encontrar – pessoas que satisfaçam as nossas necessidades. E quando essas primeiras conexões são instáveis, desfeitas ou mesmo prejudicadas, podemos transferir essa experiência para aquilo que esperamos dos nossos amigos, nossos filhos, nosso companheiro amoroso e até para sócios profissionais.
Se estamos sempre esperando o abandono, ficamos desesperados, sentimos que sem o outro, não somos nada, que sem o amor do outro, morreremos...
Se o que esperamos é a traição, vivemos procurando cada lapso, cada falha que nos comprove a certeza que não podemos mesmo confiar em ninguém.
Quando o que esperamos é a rejeição e a recusa, fazemos exigências excessivas, muitas vezes agressivas, com raiva antecipada por saber que não serão atendidas. Esperando o desapontamento, procuramos garantir que, mais cedo ou mais tarde, seremos mesmo desapontados.
Esta é a infeliz dinâmica da consciência quando tememos, o tempo todo, a perda e a separação. Estabelecemos ‘conexões iradas e ansiosas’ onde frequentemente acabamos provocando aquilo que tanto tememos. Afastamos as pessoas que amamos com a nossa dependência incômoda, cobranças excessivas, carências intermináveis. Com medo da separação, repetimos a nossa história num novo tempo, com novos personagens, num novo cenário, mas com o peso poderoso de um passado esquecido, porem presente na incontrolável ansiedade que é a ‘lembrança’ da perda.
A iminência da perda provoca ansiedade, mas a ansiedade contém a semente da esperança! Quando a perda parece permanente, entramos em desespero, experimentamos a dor e a depressão, nos sentimos abandonados e sozinhos, muitas vezes culpados, desamados, perdidos para sempre...
E é nessa depressão, nessa volta ao silêncio e à vacuidade do SER, que encontramos a grande chance de deixar morrer nossas iras e mágoas, nossas culpas e abandonos, nossas falsas carências de proteção e cuidados, a ilusão de completude através do outro. É a oportunidade de encontrar, no fundo do poço, a FONTE de água pura que sacia e alimenta nossa ALMA, a fonte do AMOR pessoal que faz renascer a cada dia, a ESPERANÇA que sustenta a VIDA, transformando a MORTE em importante PORTAL para o próprio RENASCIMENTO. Desta vez, sendo a MÃE amorosa e generosa de sua CRIANÇA imortal.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

ENVELHECER COM JUVENTUDE

A gente nunca pensa em envelhecer enquanto é jovem.
A gente sempre acha que ainda é jovem para pensar em envelhecer.

Temos medo... Pavor... Horror só em pensar !
Alguns, não todos, claro!

Conheço inúmeras pessoas que envelhecem magnificamente aceitando e superando as limitações de seu tempo. Pessoas que vão pelo caminho, sempre revendo conceitos e valores, tornando-se menos preconceituosas, menos moralistas, mais flexíveis, que seguem transformando todo o conhecimento de uma vida em sabedoria de viver em equilíbrio consigo mesmas, com os outros e com o universo. Sem julgamentos. Amorosamente acolhendo as imperfeições humanas e proporcionando harmonia ao mundo.

Diz um ditado que morremos como vivemos. Então, temos que nos ocupar de como estamos vivendo e não nos pré-ocupar de como ou quando morreremos.

É isso que faz a diferença, saber que fazemos nossas escolhas.

A expectativa de vida aumentou e o mercado está transbordando de ofertas de como não envelhecer, ou melhor, não desenvolver as doenças da velhice. Estamos cansados de saber sobre a necessidade de dieta equilibrada, exercícios físicos, interesses diversificados para manter os neurônios em atividade, amigos verdadeiros, família solidária, algum lazer, se possível um amor sensual sem conflitos, isso para manter a qualidade de vida na velhice. Tudo isso dá um imenso trabalho! Cuidados constantes, diários, rotineiros.Durante a jornada inteirinha.

Envelhecer com juventude é um grande lance!

Acredito que isso é possível, e para mim significa envelhecer com alegria e entusiasmo pela vida, é estar aberto às novas formas de cultura renovada pelas gerações. Experimentar tudo que a vida oferece dentro das suas condições, conhecer seus limites e fazer deles cercas vivas cultivadas com primaveras num belo jardim. Significa adquirir o direito de fazer arte sem preocupar-se com o sucesso e as críticas, pelo simples prazer de ver as horas passarem descobrindo seus próprios traços, suas cores, sua poética de expressão na vida.
Ir de encontro ao EU maior que nos habita...

Envelhecer com juventude é cultivar o amor incondicional a serviço do outro como instrumento de transformação do mundo. Ensinar as crianças e os jovens o valor de servir com amor a toda a humanidade. Ser revolucionário na sua linguagem de paz.

Envelhecer com juventude é transcender as aparências e as limitações e penetrar na alma da vida, no seu verdadeiro sentido, nas esferas mais sutis da consciência do eterno mistério da existência. Ter juventude é caminhar como quem dança, sonhar como criança e amar, amar e amar...

sábado, 17 de outubro de 2009

VIVA A PRÔ!

Ainda posso lembrar-me, com certa nitidez, do primeiro dia em que fui à escola para início da alfabetização. Eu tinha seis aninhos e muitas expectativas. Não lembro bem quem segurava minha mão até a porta da escola, mas jamais esquecerei o olhar doce e o sorriso cheio de ternura da minha querida professora, dona Ana Aparecida.
Lembro-me da minha timidez diante daquele mundo novo, da sensação de insegurança nos primeiros dias de aula, mas sempre, sempre aquele olhar de aceitação e a paciência carinhosa com que minha professora corrigia meus erros, chamava a atenção quando necessário e elogiava os acertos fazendo-me sentir aprovada e inteligente, encorajava-me a seguir em frente com a certeza de conseguir!
Este momento da vida de toda criança é sempre mágico e cheio de expectativas, como tal, causa ansiedade e excitação pela novidade e desafios. A primeira experiência de vida escolar, os primeiros anos da educação infantil e ensino fundamental são de vital importância na construção do vínculo que o aluno terá com todo seu processo de aprendizagem e com a escola. Se o vínculo for positivo, baseado no respeito às diferenças, na aceitação das dificuldades, no carinho e afeto na relação pessoal, então a criança poderá sentir-se segura e motivada a aprender e corresponder às expectativas que os adultos têm sobre ela.
A construção das redes neurais, com a quais a criança passará a responder aos estímulos da educação formal, são estabelecidas muito mais através das emoções que acompanham o aprendizado dos símbolos do que com a lógica e a razão. As experiências vividas durante esses anos ajudam a formar nosso bem-estar emocional. A negligência dos pais, a rejeição materna, o excesso de rigidez e traumas precoces, podem mudar o cérebro das crianças para sempre, afetando as reações emocionais frente a eventos estressantes e predispondo a transtornos de ansiedade e depressão. Aos seis anos, o cérebro atinge 95% do peso que terá quando q pessoa estiver adulta e o ápice do consumo energético. Por volta dessa idade a criança começa a aplicar a lógica e entender seus próprios processos de pensamento. O cérebro continua a crescer, fazendo e quebrando conexões neurais com as experiências, até que, depois de um pico de produção de massa cinzenta, aos 11 anos em meninas e 14 em meninos, a puberdade chegará e mudará tudo novamente.
Ufa! Esse é o universo em pleno desenvolvimento e construção de si mesmo que as professoras e professores recebem para atuar de forma direta, sistemática, cotidianamente, com a responsabilidade de desenvolver os processos cognitivos e formar cidadãos para o mundo. Tarefa delicada e complexa uma vez que quem educa, também é um universo emocional com sua história de vida, seus valores e conceitos, seu temperamento e personalidade, seus ideais, expectativas e frustrações.
Quero aqui, prestar minha amorosa homenagem à todos os educadores e educadoras, pelo reconhecimento de sua importante missão na construção de um mundo muito melhor. Sei que a maioria de vocês tem se sentido abandonada pelos pais da instituição a quem se subordinam, negligenciados em sua própria casa, desrespeitados por alguns alunos e sem o reconhecimento e a participação de boa parte das famílias que lhes confiam a educação dos filhos. Sei também que a extensa jornada de trabalho que precisam cumprir para que o salário possa suprir suas necessidades, rouba-lhes o tempo de convivência familiar, o lazer, o relaxamento necessário à boa condição física e mental para enfrentar o dia a dia com muitas crianças transbordantes de energia e carentes de atenção e estímulos.
Não posso deixar de ressaltar a enorme contribuição que vocês, professoras e professores, mulheres e homens que desempenham sua profissão com AMOR e ÉTICA, dão à vida das pessoas que passam pelas suas mãos, pelo seu olhar, pelo seu afeto e encontram em vocês a segurança e o estímulo para desbravar o mundo que as circundam, para expandir a consciência sobre si mesmas, construindo sólidos princípios para o desenvolvimento de um SER humano ÍNTEGRO e PLENO que todos nós queremos ser.
Resistam à todas as intempéries, estar à serviço da vida é a grande missão de todos nós, e quando o nosso trabalho nos dá a oportunidade de desempenhar esta missão, devemos honrar o privilégio de receber esta GRAÇA colocando à disposição do outro o que temos de melhor em nós, a generosidade da afetividade que transborda dos corações daqueles que encontram no amor, o sentido maior de sua existência e reconhecem no outro o seu manancial de evolução pessoal a caminho da plenitude e da felicidade.

sábado, 10 de outubro de 2009

DESAPEGAR... NÃO É FÁCIL.

Do seio da mãe,
Do colo querido,
Daquela chupeta,
Do brinquedo favorito,
Da infância, dos medos,
Das ilusões da vida...
Do amor que se foi
E até da ferida.
Desapegar... Não é fácil.
Das mágoas sentidas nas decepções
Das expectativas jamais cumpridas,
Da raiva que queima a alma,
Exige vingança, mata a calma,
Da lágrima que briga
Com os olhos cansados...
Desapegar... Não é fácil.
Do veneno que circula nas veias,
Das lembranças enoveladas,
De pensamentos viciados
Em inúteis padrões ultrapassados,
De um passado que já era
E mesmo assim
Desapegar ... Não é fácil.
Pois isso tudo
É só o que temos
Quando vivemos de apegos.
Com medo da escassez
Acumulamos culpas em segredo,
Crenças e valores sem sentido
Amores entorpecidos.
Juntamos o que cultivamos
Para preencher o espaço
Que o amor deixou vazio...

Um dos conceitos que mais me instiga a refletir sobre os valores que estão ancorando minha vida e minhas escolhas conscientes e inconscientes, nos últimos tempos, é o APEGO. Esta reflexão começou quando conheci as tradições espirituais orientais, mas sobretudo quando confirmei na minha prática de trabalho e na própria existência, tudo que essa filosofia de vida nos ensina sobre esse valor enraizado em nossa cultura. O TER como fonte maior de satisfação e realização.
Na verdade acreditamos que teremos segurança e felicidade se pudermos reter aquilo que nos dá a sensação de plenitude. As pessoas que amamos têm que nos pertencer, as nossas idéias têm que ser verdades absolutas, os bens materiais têm que estar sob nossa posse, os momentos encantados da vida têm que durar para sempre. Nos apegamos não apenas ao que é bom, mas também fazemos isso com as mágoas, raivas, fatos que já desapareceram no tempo. Nos apegamos à fantasias e ilusões, à idealizações que jamais se cumprirão, nos apegamos ao velho e conhecido mundo do passado como se ele fosse tudo que temos e teremos.
O apego gera o medo da perda, do abandono, da solidão, da escassez, enfim, todo o sofrimento humano. Sabemos da impermanência de todas as coisas, da roda da vida que gira e gira traçando novos caminhos enquanto os percorremos. Tudo passa como a paisagem que vamos deixando para trás, como os sonhos da infância e as paixões da adolescência. Assim também devemos deixar no caminho as decepções, desapegar das ilusões e das expectativas que podem nos frustrar, dos conceitos que já não fazem mais sentido no atual momento da nossa vida e de todo o lixo emocional que acumulamos ao longo dos nossos dias. Desapegar das culpas que mantemos a nos punir e dos valores que não servem mais à nossa felicidade.
O que permanece pela eternidade é só o AMOR, todo o resto é efêmero e fugaz.
Quando amamos verdadeiramente, deixamos fluir a vida, e a liberdade é a condição que conquistamos com o desapego, porque sabemos que fazemos parte desse imenso oceano cósmico de amor universal onde somos UM e jamais estaremos sós.

domingo, 27 de setembro de 2009

ESTAÇÕES DA VIDA

A primavera entrou trazendo com ela o vento frio do inverno e a chuva generosa a regar o ventre da Terra. Chegou trazendo a certeza dos brotos e das flores, nutrindo as sementes adormecidas no inverno, lavando a paisagem, ressaltando as cores.
Que se faça PRIMAVERA em nós!
Nossas estações internas também são influenciadas pelas intempéries da existência. Verão é a exuberância das estações, o sol escaldante convida à vida lá fora, a despir-se dos velhos hábitos e banhar-se nas águas da alegria. As férias trazem a sensação da liberdade adiada a cada segunda-feira e prometem sábados e domingos todos os dias.
Quando o sol ilumina nossa alma e a paixão habita nosso cenário, então somos verão e expandimos nosso ser inteiro sem fronteiras na imaginação. É a juventude da vida!
Mas o auge da expansão é o inicio do recolhimento neste universo circular e cíclico. O outono traça o caminho de volta para casa. Devagar, a brisa leve traz o cheiro da fruta madura e a promessa de novas sementes. No outono a vida amadurece e toma consciência de si, atinge sua plenitude e faz sua colheita individual e única, resultado de todas as vivências dos tempos de expansão. È hora de novas escolhas, de internalizar os frutos das experiências e separar as sementes a serem cultivadas no tempo certo, hora de aprender a paciência da espera e a certeza do amanhã.
Inverno é tempo de recolhimento, onde se prepara nova vida, buscamos acolhimento e aconchego no útero possível e hibernamos em nossas cavernas escuras e silenciosas a espera do tempo de despertar. Quando a vida lá fora está fria e cinza, quando a paisagem interna parece estar morta, então, é inverno em nós, o mais profundo encontro com nossa essência dá-se nessa fase do recolhimento, onde nossa centelha divina ilumina as trevas da solidão e abre as portas da esperança!
Agora é primavera! A mais bela das estações, vamos cuidar do nosso jardim?
Pode ser que o jardim das nossas emoções tenha sido um pouco castigado pelas forças da natureza, pode ser que tenha ficado abandonado ou o deixamos em mãos que não o fertilizaram. Pode ser que, mesmo com cuidados e carinho, tenha recebido estilhaços das guerras da humanidade, nosso jardim é só uma parte desse imenso paraíso, tudo que acontece à ele, atinge nosso jardim.
É primavera e o Céu derramou suas Águas abençoando a Terra e os seus Filhos!
Primeiro, limpemos o chão a ser plantado, vamos retirar dele todas as toxinas que podem envenenar nossos brotos: as mágoas, o medo, as culpas, o egoísmo, a raiva, os preconceitos, a inveja, a avareza, a maldade, e tantos outros venenos..
E então é hora de arar o solo com as mãos cheias de humildade e gratidão por tudo que temos e somos. Vamos misturar o húmus da verdade e da coragem a fertilizar a área da imaginação e a nutrir todas as formas de vida com respeito, solidariedade e compaixão.
Agora sim, uma a uma, plantemos as sementes que guardamos nas profundezas do coração, as delicadas flores do perdão, as sempre vivas da alegria, os doces lírios da paz... Plantemos coloridos beijos de ternura e amores-perfeitos sem medo, lilases lavandas cheias de calma e rosas vermelhas transbordantes de paixão. Um gramado de generosidade e arbustos perfumados de suave sedução.
Todos os dias, neste solo fértil cultivado por nossas mãos, derramemos as límpidas águas do AMOR em forma de proteção, para que nada e ninguém destrua as possibilidades de vida contidas nas sementes, para que não sequem os sonhos que dão força de crescimento aos seus brotos e para que nenhuma nuvem negra impeça o Sol de fecundar a vida que explode em beleza homenageando e honrando o seu Criador.
É primavera e nós também vamos florir!

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

A CULPA É MINHA?

Se existe um sentimento mais pernicioso para nossa plenitude e felicidade do que a culpa, eu desconheço. Não estou falando do reconhecimento da responsabilidade que temos sobre nossa vida e o que permitimos que as pessoas façam com ela; também não falo dos erros que cometemos pela vida a fora e que nos ajudam a crescer e aprender o que precisamos para tornar-nos pessoas melhores do que já somos. Falo de um sentimento que nos aprisiona e nos condena a um eterno movimento de auto punição, falo do sentimento que não nos permite acreditar merecedores dos prazeres que a vida pode nos proporcionar, merecedoras do amor e da alegria de ser quem somos.
A culpa está ligada ao pecado, ‘minha culpa, minha culpa, minha máxima culpa’, está ligada aos conceitos religiosos que aprendemos quando ainda não temos condições de pensar subjetivamente, de abstrair. Lembro-me bem da imagem que eu tinha de Deus na infância e perdurou até o fim da adolescência, imagem que deve habitar o imaginário de muitas pessoas ainda hoje. Eu via Deus como um senhor imponente de barbas brancas, sentado num trono no céu, de onde podia observar todas as pessoas e marcava no caderninho todos os pecados que eu cometia e deveria prestar contas mais tarde. E esse caderninho foi sendo preenchido dentro de mim.
A culpa é um sentimento que sempre nos faz sentir ‘devedores’, em falta com os outros ou com a gente mesmo, e se estamos devendo não podemos receber nada de bom. Aprendemos que, se somos culpados, temos que receber a devida punição, e passamos a fazer isso inconscientemente boicotando as oportunidades de crescimento, as possibilidades de expansão da própria consciência. Ficamos encarcerados na cela da solidão, o maior castigo a que podemos nos condenar.
A culpa talvez seja o sentimento que mais ressalta um dos maiores valores históricos e filosóficos cultivados pela raça humana: a liberdade; no verdadeiro sentido da palavra, que infelizmente para a personalidade culposa depende sempre da autorização do outro.
E assim, vamos elegendo nosso cárcere e nossos carrascos. Pode ser o excesso de trabalho que não nos permite ter vida, pode ser um casamento infeliz onde o amor já acabou e o que fica é o sentimento de dívida, podem ser doenças físicas e emocionais a nos castrar a alegria de estarmos vivos, e muitas outras situações que nos colocamos e não nos permitimos fazer novas escolhas.
A personalidade culposa entra em um círculo vicioso onde repete sempre o mesmo pecado, o mesmo erro como forma de punição, o que acaba gerando mais culpa e necessidade de punição. Freud cita “compulsão a repetição” um defeito de reviver eternamente um tipo de neurose, como se repetir determinado tipo de erro pudesse em algum momento fazer com que ele se tornasse um “acerto”. Acontece que o mecanismo da culpa está também interligado a reprodução de nossos modelos familiares, sendo que em determinado momento da vida, há uma espécie de disparo de algo automático que faz com que nos obriguemos a viver a mesma história ou conflitos de nossos familiares. Esta compreensão é fundamental para a descoberta da gênese da culpa, pois descobrimos que o poder do inconsciente não está a favor de uma mudança, mas tão somente da necessidade de copiar literalmente determinado modelo. A obrigação de ser igual é uma tarefa essencial da culpa.
E então, como livrar-nos desse mal que mina o chão onde pisamos, que entorpece os sentidos e reveste tudo de cinza? É possível, é bem possível e devemos começar agora mesmo.
Para a culpa, só há dois caminhos: o perdão ou a punição. E o perdão mais difícil é aquele que devemos conceder a nós mesmos. Antes, temos que nos reconhecer humanos, incompletos e errantes, aceitar que a perfeição é uma ilusão da mente do homem, que não somos os juízes e não é nossa função julgar o outro e nem a nós mesmos. Mas se julgamos e condenamos, então temos que trilhar o caminho do perdão, no seu verdadeiro sentido. Perdoar não é eximir-se das responsabilidades sobre seus atos, mas acolher-se como se faz com um amigo querido, aceitar-se por inteiro, como se pôde ser até então, é livrar-se das mágoas e dos ressentimentos instalados em nossa alma. Perdoar é libertar-nos de tudo que nos aprisiona e dar-nos, enfim, a permissão e autorização para sonharmos e sermos felizes e plenos de vida e amor.
Perdoe-se!

sábado, 12 de setembro de 2009

INFERNO ASTRAL

Segundo a astrologia, nos quarenta dias anteriores ao nosso aniversário, estamos num período chamado “inferno astral”.
Bem, se é inferno não deve ser muito bom, penso em algo quente, ardente, onde somos destinados a conhecer e conviver com nossos próprios demônios, com sofrimento intenso no julgamento de todos os atos pecaminosos que cometemos durante a vida. Uau !!! Isso é mesmo terrível para quem tem muitas contas a acertar com o universo!
Nem sei se acredito muito nisso, mas sei que comprovo sempre. Em mim mesma, nas pessoas com quem convivo afetivamente e, mais intimamente, naquelas pessoas com quem desenvolvo meu trabalho em psicoterapia.
No período do nosso inferno astral de cada ano, sofremos pra caramba. Sofremos mesmo. Tudo tem um peso muito maior, nosso julgamento sobre as pessoas fica extremamente aguçado, mas o que mata é nosso julgamento sobre nós mesmos. Ah ! Este sim, adquire requintes de uma crueldade quase redentora, velada, sutil, tornando-nos vítimas de todas as escolhas que fizemos durante o ano que se finda e não raro, das escolhas de todos os tempos, mesmo aquelas onde a imaturidade e a inconsciência, junto às ilusões da vida e às paixões desenfreadas tomaram conta de nós. É como se fizéssemos passo a passo um balanço de nós mesmos. Fácil não pode ser, olhar para si sem lentes cor de rosa, sem máscaras, despidos de defesas e justificativas sem sentido para tudo que não temos coragem de encarar.
Independente do período anteceder a data do aniversário, vez ou outra todos passamos por períodos assim, onde um verdadeiro ‘inferno’ instala-se em nossa mente, na nossa alma atormentada e reflete necessariamente no corpo, o templo das nossas emoções, através dos mais variados sintomas.
As sociedades primitivas tinham rituais para a purificação do corpo, da mente e do espírito porque acreditavam que ‘o espírito pode ficar um pouco enferrujado ao longo do tempo, sempre que as experiências da vida física se tornam descontroladas’. Através desses rituais, que geralmente exigiam algum tipo de sacrifício, a limpeza e purificação era o caminho para livrar-se de todos os pensamentos, sentimentos e atitudes negativas, conduzindo de maneira suave e harmoniosa ao desapego das emoções do ego e ao ‘caminho sagrado’, onde se pode contemplar a paz e a serenidade, e voltar a usar todo o potencial criativo de forma brilhante e harmoniosa a favor da vida plena.
Acredito que sempre recebemos tudo que precisamos. E se precisamos desse inferninho, que venha então e que possamos nos transformar com ele, transcender a mesquinhez da vida material e buscar o sentido no sagrado que nos habita.
Se precisamos nos condenar, nos punir e sofrer “o verdadeiro inferno” para limpar nossos pecados e nos redimir de todas as culpas, que sejam bem vindos os demônios escondidos em nossos porões, alimentando-se de nossa ignorância e escuridão. Que venham todas as legiões de anjos do bem e do mal em socorro de nossa alma carente de libertação!
Só assim podemos tornar-nos íntegros... Inteiros... Integrando nossos dois lados, aceitando e convivendo pacificamente com nossas limitações, nossos pecados, nossos mais escondidos desejos e segredos, sem culpas, sem ressentimentos, sem julgamento.
E só então somos capazes de expandir a imensa paz que há em nós, de alimentar sempre o nosso amor pessoal com a luz da humildade de nos reconhecermos eternos aprendizes de nós mesmos e do caminho sagrado da plenitude.

Joana Carolina Paro.

sábado, 5 de setembro de 2009

LINGUAGENS DO AMOR.

Meus queridos leitores e leitoras, estamos construindo um vínculo que me permite tratá-los assim, carinhosamente. A certeza dessa amizade tem vindo até mim através das mais diferentes pessoas, que com esse mesmo carinho agradecem, elogiam, comentam algo que as tocou direta e profundamente, algo que serviu para outra pessoa e foi recomendada, de alguém que recortou o artigo do jornal e pregou no local de trabalho para que todos refletissem, e até de pessoas que passaram a dar uma importância especial aos jornais de sábado porque buscam algo que as façam pensar, olhar para suas próprias emoções e entender melhor os sentimentos e limitações de outras pessoas.
Recebi e-mails, telefonemas, recados pelo Orkut, mas os que chegam pessoalmente trazem também seus abraços, apertos de mãos calorosos, beijos, e uma chuva de coisas boas que nutrem e fazem brotar as sementes da minha poética a serviço da vida. Por tudo isso, agradeço com o coração transbordando alegria.
E nos momentos que meu sentimento é gratidão, percebo que nenhuma insatisfação, nenhum medo, pensamento derrotista ou dor de alma passam perto de mim. Sinto-me em paz comigo, com Deus e com o mundo.
É aquele sentimento de aprovação, aceitação, amor. Isso porque aprendemos que para sermos amadas temos que ser aprovadas, admiradas e importantes. E o amor tem tantas linguagens que às vezes não conseguimos decodificar. Mas a linguagem de amor que todos conhecem é o reconhecimento da importância da nossa vida na vida das outras pessoas. E isso, precisamos dizer, demonstrar nas pequenas atitudes do dia a dia, nas datas especiais onde nos é permitido o forte abraço, as palavras carinhosas, os cartões contendo palavras que nunca conseguimos dizer pessoalmente, os presentes que escolhemos com cuidado para agradar, a solidariedade nas dores, o acolhimento no desespero.
Perseguimos o amor, sofremos quando nos sentimos rejeitados, tememos perder a aceitação das pessoas que são importantes para nós. Temos medo da solidão e do abandono. Medos primários que se repetem a vida toda com maior ou menor intensidade porque sem o outro, não somos ninguém, são as pessoas que nos dão a referência de quem somos. A timidez nada mais é que o medo do contato com o outro, o medo da não aceitação, do sentimento de exclusão e rejeição. O sentimento de pertinência promove segurança, aconchego e alegria.
A pedagogia da punição e do pecado e a ilusão de um ser ‘ideal, perfeito’, são as grandes responsáveis pelos sentimentos de inferioridade, incapacidade e culpa que se encontram como pano de fundo na vida daquelas pessoas que não se sentem merecedoras do amor, do sucesso, da abundância e da felicidade, e por isso vivem boicotando, de forma inconsciente, todas as boas oportunidades que a vida oferece.
Vamos lançar nosso olhar para dentro... Qual é o padrão de pensamentos e sentimentos que se repetem em nossas vidas sem que tenhamos controle? É preciso identificar as emoções que se apossam da nossa alma em defesa do ego, para que possamos nos separar delas. Precisamos conhecer o que nos limita de sermos mais felizes e plenos, para nos autorizarmos a realizar os sonhos que acalentamos, para fazermos escolhas mais conscientes e saudáveis. Carecemos de uma boa dose de amor pessoal para nos aceitarmos com todos os erros que já cometemos e os que ainda iremos cometer. Reconhecer nossos próprios talentos e elogiar os talentos alheios para fazê-los crescerem, é alimentar o lado criativo e amoroso do ser humano, é um incentivo para que se coloque os dons a serviço da evolução da humanidade.
Praticar a linguagem do amor generoso, do amor que liberta e alimenta, é o exercício mais gratificante e construtivo da existência. Ser gentil com as pessoas e com o planeta, sentir-se responsável pela paz nas relações e pela evolução pessoal e coletiva dá sentido e importância à nossa vida.
Onde reina o amor, a coragem é maior que o medo, a gratidão sana toda insatisfação e a felicidade é um sonho possível.

Joana Carolina Paro

sábado, 29 de agosto de 2009

A NOITE ESCURA DA ALMA.

Assim como a alegria é a luz no coração, a depressão é a noite longa e escura da alma.
Não existe luz sem sombras, nem plenitude sem solidão.
A depressão é a ausência de si mesmo, a morte em vida, e só quem já a experimentou pode avaliar a intensidade com que ela aniquila a vida de quem sofre deste mal.
É considerada a quarta maior causa de incapacitação ,do mundo, por seus efeitos devastadores. Estudos revelam o aumento da incidência da depressão, estimando-se que de 15% a 20% da população adulta é vítima de pelo menos um episódio depressivo durante a vida. Quem sofre a primeira crise tem 50% de chance de reincidência e após o segundo episódio aumenta ainda mais a ponto de tornar-se crônica se não tratada adequadamente.
Dependendo da intensidade do quadro depressivo, além da tristeza profunda e inexplicável, pode incluir em seus sintomas distúrbios de sono e de apetite, cansaço e desânimo, irritabilidade, perda de memória, dores de cabeça e no corpo, problemas digestivos e até mesmo pensamentos e comportamentos suicidas. Algumas pessoas apresentam um quadro atípico, camuflam a tristeza e melancolia com respostas agressivas, críticas destrutivas e queixas constantes. Voltando o olhar para fora de si, vêem no mundo e nos outros a justificativa para os seus sentimentos negativos.
Uma característica marcante e sempre presente na pessoa depressiva em qualquer grau é o negativismo. Os pensamentos são sempre negativos, de fracasso, de inferioridade e incapacidade para enfrentar a mais simples tarefa do dia a dia. Viver é um esforço imenso e o medo da insone e silenciosa noite assombra as manhãs de sol.
A depressão seqüestra a alma e a vontade, compromete a capacidade de trabalho, de cumprir com responsabilidades e cria um rombo na afetividade. Relacionar-se com outras pessoas, conversar, receber visitas, divertir-se, é um sacrifício enorme. Há um vazio de esperança e amor.
Infelizmente ainda hoje, apesar de toda a divulgação das pesquisas e informações sobre a depressão, muitas pessoas a tratam com indiferença, teimam em dizer que é ‘frescura’, que a pessoa deprimida está assim ‘porque quer’ ou por ‘não ter o que fazer’ e que, se quiser, pode sair da crise apenas com a decisão de fazê-lo. Outros tem preconceito à medicação , não acreditam em psicoterapia e tem aqueles que afirmam que isso jamais acontecerá consigo. O preconceito ainda ronda essa doença que não aparece nos exames convencionais da medicina. Não se constata no sangue, nem nas células, nem mesmo nos mais sofisticados aparelhos de auxílio diagnóstico como a grande maioria das doenças físicas. A predisposição genética é um fator de grande importância, mas sabe-se também que a depressão envolve alterações neuroquímicas, embora tenha fortes implicações psíquicas, emocionais e sociais.
Por todas essas razões e pela complexidade dos seus sintomas e crenças, não é só a pessoa depressiva a vítima da situação. A depressão vem para toda a família, afeta as relações mais íntimas e provoca uma multiplicidade de emoções em todos os seus membros, desde a compaixão até a raiva, da solidariedade ao sentimento de profunda impotência diante da questão. Todas as tentativas de ajuda podem não surtir qualquer efeito e assim as pessoas sofrem junto com a vítima. Isso a faz sentir-se ainda mais culpada por não conseguir reagir aos conselhos e soluções apresentadas pelos que convivem com ela, causando muito sofrimento a todos.
Então, essa longa noite escura da alma só pode ser atravessada quando seguram as nossas mãos e nos conduzem de volta à luz. À luz da consciência da necessidade do tratamento adequado a cada ser, na sua integridade. À luz do conhecimento científico que oferece inúmeras terapêuticas eficientes e eficazes, À luz das terapias integrativas e complementares que aí estão a serviço da saúde do ser humano na sua plenitude.
A família, os amigos devem ser apenas os condutores amorosos nessa jornada em busca da cura, não poderão ser os que curam, seu papel e missão é outro em nossas vidas, são as luzes que iluminam, na noite escura, o caminho que devemos construir.
Afinal, a depressão é a conspiração que a alma trama para que o ego dispa-se dos medos e culpas, da raiva e das mágoas, da arrogância e da inveja e possam enfim, EGO e ALMA viverem em PAZ seu caso de AMOR com a VIDA.

Joana Carolina Paro

Publicado em 29 de agosto de 2009 no jornal "Diário de Peapolis".

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

TEU RISO É TUA GRAÇA

Como dizia o poeta Vinícius de Moraes:

É melhor ser alegre que ser triste
Alegria é a melhor coisa que existe
É assim como a luz no coração.

A luz no coração dissipa as trevas , revela as cores , espanta a solidão . A luz que aquece o frio da indiferença, derrete o gelo do egoísmo e faz brotar as sementes da esperança, nem sempre brilha nos corações humanos.
Alegria é a forma que o humor encontrou para manifestar seu lado mais positivo e produtivo. Para a alma é o bálsamo e para o corpo, o elixir.
Por falar em humor, não há algo que provoque mais sofrimento que a falta dele em nossa vida. Seja de dentro para fora ou de fora para dentro. Não é nada fácil conviver com pessoas que vivem de ‘mal humor’, mais difícil ainda é conviver consigo mesmo sem encontrar a própria graça e expressá-la no dia a dia.
“A vida é uma tragédia vista de perto e uma comédia quando vista de longe”, dizia Charles Chaplin, que sabia provocar risos e encontrar a graça em situações improváveis, como podemos comprovar assistindo aos seus filmes.
“Rir é o melhor remédio” exatamente porque libera hormônios estimulantes como a adrenalina e a noradrenalina, acentua a freqüência respiratória oxigenando melhor o sangue e aumentando os batimentos cardíacos. Quando achamos graça, nosso cérebro produz endorfina, substância química natural que alivia a dor. Com menos dor, o clima fica mais propício para acharmos graça na vida. É um processo que se retroalimenta.
Freud, o pai da psicanálise, afirmava que o riso é uma tentativa de recuperação da espontaneidade da infância. Ele define o instante da comicidade como a eliminação temporária da censura diante da angústia e da ansiedade, assim como o sonho, o imaginário e a fantasia. Para ele, o humor funciona como uma válvula de escape psicológica, impede a pressão do recalque e nos ajuda a lidar com as angústias inevitáveis. O ‘chiste’, aquela piada ou trocadilho que somos capazes de fazer com as tragédias da vida, é uma tentativa de tornar mais leve o sofrimento que elas nos causam.
A autocrítica bem humorada é uma forma de ternura para consigo mesmo. Rir dos próprios defeitos ameniza seus efeitos e torna a vida mais leve. Treinar o bom humor no dia a dia é uma espécie de inteligência, de sabedoria que podemos fazer crescer em nós e todos temos em potencial, é preciso apenas remover as barreiras que o aprisionam.
O riso é irreverente, nos permite aceitar sem compreender, assumir tudo sem levar nada a sério, é coragem. Quando esquecemos o riso, esquecemos as canções de amor, a dança, o gozo e a beleza da vida. Só existe paz na alegria.
O bom humor fortalece o psiquismo e desenvolve a resiliência, o equivalente psicológico da resistência física, uma espécie de força mental expressa na capacidade de suportar crises, perdas ou frustrações e encontrar algo positivo mesmo em experiências profundamente dolorosas. Quem vê o lado cômico da vida costuma sofrer menos infartos ou derrames, sente menos dor e vive até quatro anos e meio a mais que as pessoas sisudas, conforme mostram as pesquisas.
Então, caros amigos, vamos buscar a nossa graça. A vida é a matéria prima, o importante é voltar nosso olhar para o inusitado, para enxergar além do óbvio, pois o humor costuma estar no desencaixe, na incoerência das situações. Não leve a vida tão a sério, ria de si mesmo, brinque com ela e vá esboçando assim a tão desejada felicidade.
Vamos distribuir alegria ao mundo, contagiar com bom humor as pessoas com quem convivemos, afinal, ser generoso é disponibilizar ao universo aquilo que temos de melhor em nós. Humor é amor em sorrisos.

Joana Carolina Paro

Publicado em 22 de agosto de 2009 no jornal 'Diário de Penápolis.

O AMOR E O MEDO

Quem nunca sentiu ciúmes que atire a primeira pedra!
Emoção universal, faz parte da condição humana desde a mais tenra idade até a morte. Uns sentem mais, outros menos. Uns conseguem controlar e outros matam e/ou morrem por ele.
A intensidade do sofrimento que o ciúme causa é determinada pelas experiências infantis e pelas vivências amorosas ao longo de toda a vida. Mais uma vez vamos constatar que a matriz das nossas emoções está na qualidade do vínculo que estabelecemos com nossos pais, mas, no amor sensual ficam gravadas as imagens daquilo que assistimos do amor entre os nossos pais. Se assistimos manifestações de carinho e respeito, acreditaremos no amor sensual, caso contrário teremos dificuldade em entregar nosso amor e confiar no casamento.
O bebê já é capaz de demonstrar o ciúme que sente pela mãe quando o pai ou irmãos ameaçam o seu reinado. O medo do abandono se traduz pelo choro do bebê quando, longe da mãe, sente-se perdido e desprotegido porque depende totalmente dela para sobreviver. O bebê chora porque sente dor verdadeira.
O ciúmes faz doer as vísceras, aperta o peito, dá nó na garganta, embola o estômago, causa insônia, depressão, ansiedade e pode desenvolver inúmeras patologias de ordem psicossomática. Isso porque junto com ele vêm várias outras emoções tão destrutivas e doloridas quanto. O medo, a raiva, a inveja, a mágoa, a culpa, o arrependimento, a desconfiança, o ressentimento...
Ciúmes é o medo da perda, o medo da rejeição, da exclusão. Ao contrário do ditado popular, ciúmes não é demonstração de amor. Ciúmes é uma emoção invasiva e como toda emoção, impossível ser evitada. Mas bem possível de ser lapidada.
As pessoas passionais, quando estão apaixonadas, muitas vezes não conseguem conter sua impulsividade diante de algum fato que gera o ciúme e tornam-se violentas, surtam, dizem coisas improváveis e jogam toda a sua ira em cima das pessoas que não querem perder. Essa agressividade acaba por destruir os relacionamentos mais amorosos quando não é reconhecida e devidamente tratada. O ciúmes pode tornar-se doentio, uma paranóia com delírios que criam uma realidade paralela de intenso sofrimento para o ciumento e para o objeto de seu ciúmes.
Em dose homeopática, o ciúme pode trazer emoção às relações, provocar o casal a reforçar o vínculo, reacender o desejo, fazer com que um cuide melhor do outro, preste mais atenção às carências de quem ama. Muitas vezes até reforça a auto estima daquela pessoa que está sendo o alvo do ciúmes, sente-se valorizada, importante, disputada. Esta necessidade leva muita gente a provocar o ciúmes do outro, consciente ou inconscientemente. Afinal, ciúmes não nasce do nada, sempre haverá algo que o justifique, aquele botãozinho que detona a bomba, aquela faísca que acende a fogueira, aquele olhar mais demorado, a atenção a mais que se dá a outra pessoa, um recadinho no Orkut, as intermináveis reuniões, a obsessão pelo trabalho e tantas outras circunstâncias onde o ciumento sente-se excluído. A reação da pessoa que provoca o ciúme poderá reforçar ou amenizar esse sentimento. Se não reconhecer a dificuldade do outro, deixá-lo só com seus fantasmas, rejeitá-lo em sua dor, poderá alimentar esse monstro que nos habita e ser engolido por ele.
Todos sonhamos com a paz no amor, queremos um alguém para a vida inteira e somos muito mais felizes quando encontramos esse amor. Mas assim que o encontramos já começamos a conviver com o medo de perdê-lo. Ao mesmo tempo encontramos o paraíso e o inferno. O amor e o medo.
Mas o amor é maior que o medo e só cresce a dois. Vamos alimentá-lo com a verdade, com o reconhecimento da grandeza do outro em nossa vida, com a valorização da sua presença, com o perdão e a profunda gratidão pela sua existência.

Joana Carolina Paro



Publiado em 15 de agosto de 2009 no jornal "Diário de Penápolis'.

PAI É PAI

Foi-se o tempo em que os papéis de pai e mãe eram bem definidos e delimitados na sociedade. Foi-se o tempo em que os papéis de homem e mulher tinham contornos facilmente reconhecidos por ambos. Foi-se o tempo de tantas outras coisas que, por décadas, foram nossas referências e verdades absolutas.
Foram as guerras e revoluções que romperam com as sólidas construções dos antigos modelos da humanidade. Depois que os homens fizeram as guerras, as mulheres silenciosamente foram ocupando seus lugares fora e dentro de casa. Do lugar da subserviência vieram as revoluções feminista e a revolução sexual protagonizadas pelas mulheres. Daí para a frente o que assistimos é a desconstrução do modelo da família nuclear e o surgimento de múltiplas formas de se viver em família.
A mãe continua a ser o eixo ao redor do qual a família gravita. Seu papel foi ampliado por ter que exercer a função do pai, na falta dele, tornando-se ao mesmo tempo provedora e disciplinadora de sua prole. Não é à toa que nosso planeta é chamado de ‘mãe’ terra, que nos acolhe e alimenta generosamente. Mas não é raro nos dias de hoje ver pais que assumem a guarda dos filhos e também desempenham a maternagem tão necessária, ampliando seu papel.
O que se cobra do pai moderno, além se estruturar a palavra de ordem dentro dos filhos, é que ele participe de todos os momentos da vida deles, que seja o modelo a ser copiado na construção do masculino nos meninos e o universo masculino a ser conhecido pelas meninas. Mesmo sem exercer o papel na sua integridade, o pai jamais perde sua importância na vida dos filhos, em tempo algum.
O que temos atualmente são homens e mulheres desempenhando diferentes papéis, independentemente do seu sexo, desmanchando, na prática, os modelos dicotômicos de papéis associados ao masculino e feminino. A paternidade tem sido permanentemente desafiada e com certeza as vivências entre pais e filhos de hoje modularão os modelos paternos futuros.
Amanhã é o “Dia dos Pais” e quero, aqui, prestar minha homenagem à todos os pais e trocar com eles algumas palavras.
Pai, saiba que independente dos seus genes e do seu nome, o que constrói e mantém os laços entre pais e filhos é o vínculo afetivo que se vive na relação. Pai é aquele que desenvolve a paternagem, mesmo que seja avô, tio, padrasto, padrinho ou amigo. A todos esses minha homenagem alcança.
Pai, o mundo quer também sua ternura, não apenas o seu trabalho. Os filhos querem seu riso solto, seu prazer em estar com eles, querem brincar com você. Querem seu olhar de aprovação quando arriscam um passo novo, sua mão forte que apóia e sustenta o risco, as asas que só você pode lhes dar.
Pai, seus filhos querem vê-lo amando e respeitando a mãe deles para que eles próprios aprendam a amar e respeitar as mulheres. Suas filhas precisam ter confiança no seu amor para que confiem no amor dos homens. Mesmo numa situação de separação entre o casal, os filhos precisam assistir uma relação de respeito e harmonia para não terem conflito em amar o pai e a mãe que já não se amam mais.
Pai, tuas críticas darão à sua prole os conceitos de certo e errado que norteiam o mundo, os valores que permearão suas escolhas. Faça-as sempre que preciso, mas nunca humilhe seus filhos quando criticá-los, jamais deixe que se sintam incompetentes para fazerem melhor. Mais que as críticas, eles precisam dos teus elogios para saberem que estão no caminho certo, que aprenderam o que você ensinou para poderem crescer.
Proteja seus filhos, pai, acolha e nutra suas idéias e seus ideais, mas não faça por eles aquilo que já podem fazer, não sufoque suas iniciativas com medo do fracasso e do sofrimento. Só é livre aquele que pode escolher por onde andar, dê-lhes a liberdade da escolha e se quebrarem a cara, ajude a recolher os cacos e curar as feridas...
Seja amigo dos filhos, mas antes de amigo, seja pai! Amigos eles escolherão pela vida a fora, podem ter muitos que vão e voltam, mas pai é você, o único com quem podem contar. Saiba ouvir seus lamentos e ofereça seu ombro, mas não se chateie se tiverem outros ombros onde recostar. Acolha os amigos deles, conheça seus hábitos, entenda as necessidades de cada idade e com isso conheça-se um pouco melhor.
Aproveite o amor dos filhos, olhe sempre nos olhos deles e aprenda a aceita-los exatamente como são. Todos podemos ser melhores do que somos e o maior núcleo de aprendizado é a família.
Enfim, viva esse papel com todo o amor que for capaz porque este é o papel mais importante da tua vida. Parabéns!

Joana Carolina Paro

Publicado em 08 de agosto de 2009 no jornal 'Diário de Penápolis'.

VIAJAR É PRECISO.

Sinto um prazer enorme só em pensar em viajar. Acredito que este prazer seja compartilhado com a maioria dos humanos, nômades por natureza mas que precisam fincar raízes por segurança e sobrevivência.
A indústria do turismo cresce vertiginosamente viabilizando viagens para todos os bolsos, o mundo ficou pequeno e é possível navegar por mares distantes em segundos através da internet. Criação do homem que antes de ser realidade foi uma grande viagem da imaginação!
A filosofia, a poesia, a música, as artes em geral proporcionam viagens inimagináveis e únicas, uma vez que cada pessoa sente o mundo segundo seu código de informações, sensações e emoções vividas.
As paisagens naturais encantam-me mais que a arquitetura das cenas urbanas, mas o grande universo por onde viajo todos os dias, por escolha de vida, é o ser humano. Esta é a minha praia, aprender para poder ajudar as pessoas a conhecerem e harmonizarem seus universos pessoais. Esta é a minha grande viagem sem volta.
Aqui, neste universo da mídia, convido os leitores a viajarem comigo.
Vamos viajar pelos caminhos de dentro...
Conhecer a paisagem interna cravada no ego e na alma pela ação dos ventos e dos homens. Penetrar nas cavernas escuras que guardam os segredos da terra, escalar montanhas de onde se pode contemplar toda a beleza e imensidão desse nosso pequeno planeta. Vamos habitá-lo com nosso espírito inocente da criança curiosa e sem preconceitos que a tudo olha com olhos de surpresa.
Viajar pelo universo humano é a maior de todas as aventuras.
Conhecer a geografia do corpo e os sentidos por onde penetra o mundo externo, conhecer a música que toca nos ouvidos como o ruído do mar nas praias ou o barulho do vento no outono. Conhecer os aromas e os sabores que despertam as sensações e memórias afetivas impressas por toda a vida. Reconhecer no abraço a carícia que o corpo pede para acalentar a alma. Reconhecer os desejos que a paixão desperta e mantém, o fogo interno com suas labaredas e força de transformação.
Vamos viajar pelos nossos ares, quais pensamentos passeiam por nossa mente? Eles nos aprisionam ou libertam? A mente não tem fronteiras, é livre para voar por onde bem entender, mas pode estar aprisionada na gaiola dos preconceitos culturais e pessoais que marcam nossa época, pode estar com as asas quebradas por uma auto imagem deformada pelo espelho de uma sociedade desigual, injusta e corrupta, contaminada pelos mitos de um mundo que privilegia o poder e a dominação. Só a mente pode nos levar às maiores e verdadeiras viagens para além dos olhos e do poder.
Expandir a consciência sobre nós mesmos é conhecer todas as potencialidades existentes nas sementes adormecidas num solo estéril. É através da mente que buscamos o alimento do conhecimento para transformar em terra fértil esse imenso jardim onde repousam muitas sementes que sequer imaginamos que flores e frutos nos trarão.
Assim como o ar que se faz vento provoca furacões e tsunamis, nossos pensamentos tem a força da vida e da morte. Condicionam a emoção, submetem os instintos às regras da racionalidade, determinam nossos desejos e medos mais secretos e norteiam as escolhas que fazemos pela vida afora. O pensamento nunca para, como o ar presente em todos os espaços, é ele quem mantém a vida na terra, porém, podemos escolher em quais pensamentos nos apegar, quais nutrir e alimentar para equilíbrio e harmonia dos outros elementos desse universo em constante transformação.
Conhecer a si mesmo é a maior conquista que podemos fazer, a viagem ao nosso interior, passando por nossos desertos e mares, penetrando florestas virgens, enchendo a alma de belas paisagens de amor infinito, e chegar àquele lugar de paz e beleza, a fonte de onde tudo flui, de onde viemos e para onde devemos retornar. O coração do universo.

Joana Carolina Paro

Publicado em 01 de agosto de 2009 no jornal 'Diário de Penápolis'.

PSICOLOGIA E CIDADANIA

PSICOLOGIA E CIDADANIA

“A semeadura é livre, mas a colheita, obrigatória”!
Gostaria de dar o crédito ao autor dessa frase, mas já foi tão usada e abusada que deve ter se tornado de domínio público. É uma verdade reconhecida e reforçada cada vez mais, tanto pelas tradições espirituais quanto pelos filósofos de plantão, e que nós, pessoas comuns, confirmamos pelos caminhos da vida.
As escolhas que fazemos são as sementes que plantamos diariamente. As palavras, as atitudes, as mais simples funções e a maneira como as desempenhamos, são nosso imenso canteiro de obras na terra.
Céu e inferno é aqui mesmo que acontecem!
Podemos escolher participar ou não do destino do lugar onde vivemos. Podemos escolher ser alguém que faz a diferença ou ser apenas alguém que passa sem ser notado pela vida. Não estou falando de grandes feitos da humanidade, estou falando de ser o melhor que se pode ser dentro da própria casa, com o próximo mais próximo, no trabalho, na vida social.
Olhamos esse mundo de violência e injustiça e ficamos indignados... Sentimos a impotência diante das crianças famintas da África e das bombas matando os meninos da ‘guerra santa’. Guerra santa!!!
Falamos mal dos governos e sacrificamos o orçamento familiar para manter os filhos na escola privada, pagar planos de saúde, colocar grades de segurança em nossos pertences materiais... Infelizmente, fazemos isso também com nossas almas... Cada vez mais fazemos nossos jardins dentro de muros imensos onde ninguém pode apreciar sua beleza, só nossos convidados especiais, aqueles que, supostamente, não pisotearão nossas flores nem roubarão nossos brotos. Temos medo dos nossos irmãos e construímos universos paralelos cheios da ilusão de que estamos separados do todo.
Enquanto isso, a educação do nosso povo fica abandonada, o sistema de saúde gravemente doente e a política cada vez mais podre e decadente como comprovamos a cada novo escândalo. As cidades, cada vez mais feias e cheia de grades, de altos muros com cercas elétricas e condomínios fechados, com as praças públicas abandonadas e tristes.
Mas... O que fazemos?
Só podemos fazer a diferença onde estamos, no local que vivemos, onde atuamos. Só podemos tornar melhor o mundo em que vivemos começando por onde estamos todos os dias. Tornando-nos pessoas melhores primeiramente na relação íntima entre nosso ego e nossa alma. Melhorando a auto imagem, a auto estima, assumindo nosso papel no mundo com generosidade.
Ser generoso é dar o melhor de si onde quer que esteja e o que quer que faça. A generosidade é uma das grandes alavancas para uma auto estima saudável e elevada, sem narcisismo e megalomania.
Temos dons e informações. Informações transformam-se em conhecimento quando as apreendemos e passam a fazer parte de nossas vidas. Conhecimento torna-se sabedoria quando o vivenciamos verdadeiramente no dia a dia. Já os dons, nos são ofertado graciosamente, como que por magia recebemos talentos que nos tornam mais hábeis que outros em determinadas questões. Todos recebemos talentos e precisamos descobri-los!
Muitas vezes só descobrimos nossos dons quando experimentamos fazer as coisas que desejamos. Se eu não cantar, jamais descobrirei se tenho talento para tal, se eu nunca tiver a oportunidade de pintar, não se revelará em mim a arte que possa estar latente.
Acredito que recebi o dom para a escrita, as palavras fluem livres e facilmente, gosto de fazer poesia e mergulhar no prazer da arte literária, mas não é a minha poesia que pode contribuir, nesse momento, para um mundo melhor. Tenho conhecimentos adquiridos durante os longos anos da minha profissão, instrumentos que as pessoas precisam para construírem um mundo melhor dentro e fora delas, e sinto que é essa a maior contribuição que posso prestar aqui onde vivo, no tempo presente. Para tal, aqui estou, ganhando espaço neste jornal que também acredita nas mesmas premissas, podendo exercitar o papel de cidadã ao mesmo tempo que desenvolvo a função social da psicologia, que é trazer ao mundo a expansão da consciência humana.
Não quero ter a sensação de falar só de coisas que eu mesma preciso ouvir. Não quero monologar com o leitor, quero dialogar e escrever sobre temas sugeridos, interagir, comunicar verdadeiramente, ouvir suas críticas e sua alma, poder corresponder às suas expectativas e necessidades.
Deixo aqui o meu e-mail para podermos nos comunicar diretamente : joanaparo@ig.com.br.
Agradeço ao jornal a oportunidade de, através deste veículo, cumprir uma parte importante da minha missão no mundo.

20 de JULHO :“DIA DO AMIGO” VIVA ! VIVA! VIVA!

‘Amigo é coisa pra se guardar
Debaixo de sete chaves
Dentro do coração
Assim falava a canção...’

De todos os sentimentos, com certeza a amizade é um dos mais cantados e declamados de todos os tempos. Foi Santo Agostinho quem disse ser a amizade "tão verdadeira e tão vital que nada mais santo e vantajoso se pode desejar no mundo".
Amizade envolve o amor, é uma relação afetiva onde estão presentes os sentimentos mais nobres do ser humano, lealdade, afeição, altruísmo, aceitação, gratidão e muitos outros que nos sustentam emocionalmente.
Não se compra, não se vende e nem se troca. Pelo contrário, a verdadeira amizade é aquela em que o amor incondicional e a confiança tecem uma trama tão forte que é capaz de vencer os mais difíceis desafios da vida.
Estar entre amigos é uma das sensações mais prazerosas que experimentamos, rir e brincar com amigos promove bem estar em todo o organismo, potencializa a criatividade e eleva o humor. Conversar com amigos sobre sentimentos íntimos pode ajudar a processar melhor as dores, levar a uma nova consciência sobre as experiências vividas, encontrar soluções e saídas para os problemas que parecem indissolúveis.
As pesquisas dizem que acumulamos cerca de 400 amigos ao longo da vida, mas que só mantemos contato por maior tempo com 10% destes. A ciência está muito interessada em estudar mais profundamente a amizade porque constatou que quem tem amigos vive mais e melhor, que a amizade é um antídoto eficiente contra os venenos da vida moderna, é vitamina para a saúde e para a carreira profissional.
Quem cultiva amizades profundas e verdadeiras durante a vida não sofre de solidão e isolamento, naturalmente tem menos depressão. A medicina também constatou que quem tem amigos tem menos problemas cardíacos e o sistema imunológico mais eficiente porque o sistema límbico, responsável pelas emoções, está interligado ao sistema neuro-endócrino, que age na defesa do organismo. Essa combinação ajuda no bem-estar geral das pessoas.
Um dos maiores levantamentos já feitos sobre o efeito das amizades na vida prática é do pesquisador americano Tom Rath, coordenador de pesquisas da Gallup Organization, um dos maiores institutos de pesquisas do mundo. Rath se valeu de parte do banco de dados da instituição – foram cerca de 9 milhões de entrevistas feitas em 114 países – para identificar a relação entre amizade e satisfação profissional. O resultado está no livro O Poder da Amizade. Segundo ele, quem tem um grande amigo no trabalho é sete vezes mais produtivo, mais criativo e mais engajado nas propostas da empresa do que aquele funcionário que não consegue se relacionar com os colegas. Quem tem três bons amigos apresenta 88% de chance de ser mais feliz na vida pessoal do que o sujeito isolado ou tímido. Só o fato de ter amizades sólidas com os colegas de trabalho aumenta em 50% a satisfação e motivação.
Então, como já diziam os filósofos da antiguidade e hoje comprovam os cientistas, a amizade é uma experiência humana de vital importância!
Ter amigos de verdade dá estabilidade e segurança emocional, com amigos de verdade pode-se contar em qualquer circunstância, nas horas de sofrimento como nas grandes alegrias, há uma tendência a desejar tudo de bom e fazer o melhor que se pode um ao outro porque os amigos potencializam aquilo que cada um tem de melhor em si.
Todo ser humano anseia por amigos verdadeiros, mas muitos tiveram experiências negativas e passaram a não acreditar na amizade fechando-se a novas possibilidades, endureceram e protegem-se do mundo refugiando-se em mágoas e preconceitos que só causam desamor e isolamento. A esses quero falar bem de perto... Desapeguem das mágoas, da raiva, do ressentimento. Deixe no passado todo o lixo emocional que não serve a nada no presente, é o veneno que contamina as células e mata a esperança!
Deixe que o sentimento de amizade ilumine, como o sol, a noite escura da alma.
A todos, desejo muita amizade! Amizade profunda, verdadeira, leve e divertida, além dos amigos, amizade com o pai, com a mãe, com os filhos, irmãos, cunhados, sobrinhos, amizade com a pessoa com quem vive o amor sensual, porque sem a amizade essas relações são frágeis e formais, perdem o sentido e a força.
Aos meu amigos queridos, minha profunda gratidão, toda minha inspiração, meu amor infinito.

Joana Carolina Paro

Publicado em 18 de julho de 2009 no jornal 'Diário de Penápolis'.

Espelho, espelho meu...

Não posso furtar-me a escrever sobre um dos temas mais importantes de nossas vidas diante da morte precoce de um ídolo mundial e do fenômeno de sua metamorfose. Sua história ilustra perfeitamente os conceitos de várias teorias psicológicas e fundamenta a busca pela ‘imagem perfeita’ a qualquer custo.
Michael Jackson jamais ficou satisfeito! Para além do espelho, as lentes da ‘auto estima’ deformavam a sua imagem.
A auto estima é a lente através da qual vemos o mundo. Esta lente é construída a partir da imagem que temos de nós mesmos. Se apreciamos essa imagem, aceitamos e gostamos dela, então nossa auto estima é elevada, caso contrário, se depreciamos e rejeitamos a imagem que fazemos de nós, nossa auto estima fica extremamente rebaixada. Este é o julgamento mais importante que fazemos em nossas vidas, o julgamento que fazemos de nós mesmos, porque é através dele que julgaremos o mundo e também as pessoas que nos rodeiam. Acreditaremos que todo o mundo nos vê como nós próprios nos vemos. Se não gosto de mim, acredito que ninguém possa gostar, mas se sou capaz de aceitar-me como sou e amar meu ser como um todo, acredito que o resto do mundo também possa fazê-lo.
A auto estima tem suas bases na infância. As principais referências de importância quem dá ao ser humano são os seus pais. A maneira como se relacionam, olham, cuidam, acolhem, educam; as palavras que dizem aos e sobre os filhos, constroem a imagem que a criança tem de si mesma. Se aprovada, sente-se importante e amada, se desaprovada, sente-se incompetente e rejeitada, acha-se má, incapaz de ser amada.
O pai de Michael Jackson era severo demasiadamente e nunca dava sinais de reconhecimento e aceitação aos filhos, dizia ao Michael que era feio e parecia um macaco, humilhava a criança talentosa e espontânea que, como toda criança, precisa e persegue a aceitação e o amor dos pais, a vida toda...
Pela vida, outras referências serão quase tão importantes quanto a dos pais, cada qual a seu tempo. Os professores, os amigos de adolescência, os ‘amores’, trarão novos contornos a essa imagem da infância, poderão melhorá-la e ajudar a modificá-la a ponto de construir verdadeiros sentimentos de importância, competência e pertinência, tão vitais na manutenção de uma auto estima saudável.
Porém, quando nos tornamos adultos e responsáveis por nós, a referência de nós mesmos tem que ser interna, não pode mais ser externa. Auto quer dizer próprio, auto estima é o amor próprio, o amor que cada um deve ter por si mesmo, independente daquilo que os outros possam pensar ou julgar. Esse sentimento sempre estará baseado na importância que cada um dá à sua própria existência, em quanto se julga competente em todos os papéis que desempenha na vida, seja de filho ou de mãe, de amiga, o papel profissional,o de amante ou de marido, enfim, são essas duas noções, de importância e competência aliadas, que mantém as oscilações naturais da nossa auto estima.
Com a auto estima elevada, sentimo-nos no direito e merecimento de sermos felizes e realizarmos nossos sonhos, permitimo-nos experimentar e errar para aprender, podemos rir de nós próprios e tornar mais leve o fardo das culpas, não colocamos nossas vidas nas mãos de qualquer um. Ao contrário, quando a auto estima é falha, o julgamento sobre si mesmo é tão pesado que só há um caminho, a condenação e a consequente punição a través da infelicidade e solidão das escolhas erradas.
Não é a busca pela ‘imagem perfeita’, seja ela objetiva ou subjetiva, que transformará esse sentimento dentro do ser humano... Os padrões de beleza e comportamento estabelecidos na sociedade, serviram e servirão sempre ao poder, seja o poder do dinheiro ou da sedução, efêmeros valores que jamais foram capazes de sustentar a felicidade.
Tudo que precisamos para manter uma adequada auto estima, é começar aceitando aquilo que não dá pra mudar. Não dá pra mudar nossos pais, nem a história que já vivemos... Não dá para mudar nossa genética mas sim nossa consciência!
Precisamos aprender a deixar no passado tudo que nos incomodou um dia, perdoar para nos livramos do lixo emocional das mágoas, desapegar do sofrimento, da raiva, dos preconceitos, dos julgamentos... Perdoar nossos próprios pecados...
Silenciar as vozes que ainda nos julgam e aceitar aquilo que pudemos ser, entendendo a dinâmica dos relacionamentos, podemos fazer novas escolhas, podemos deixar o destino herdado e, a partir dele, construir o destino escolhido.
E só então, deixaremos de ser vítimas para sermos heróis da nossa história, há dois caminhos a seguir, o caminho da vítima do mundo e de todos, e o caminho do herói que enfrenta as batalhas, ganha, perde, cai, levanta, aprende e cresce... Mas jamais desiste de ser feliz!
A escolha é de cada um, e precisa ser uma escolha consciente!

Joana Carolina Paro

Publicado em 11 de julho de 2009 no jornal 'Diário de Penápolis'.

O FURACÃO DA ADOLESCÊNCIA

Gosto de pensar por imagens, assim como fazem as crianças, além de ilustrativo e lúdico, permite um entendimento mais amplo das questões.
Todas as vezes que falo sobre adolescência, a fase mais dinâmica do desenvolvimento físico e mental do ser humano, relaciono à imagem de um furacão. Imagine um furacão passando pela tua casa, tirando tudo do lugar, destelhando , arrancando janelas, quebrando portas, fazendo estragos... Imagine um furacão que pode durar alguns anos para passar. Isso é a adolescência!
Nessa época da vida as mudanças no corpo são drásticas, os chamados ‘estirões’ fazem com que os adolescentes percam a noção de seu esquema corporal, e a invasão dos hormônios da sexualidade provocam sensações novas e emoções jamais vividas. Mudam os interesses, muda o humor, o comportamento, as reações diante da família e sociedade, mudam as roupas, a pele, a fala... Aquela pessoinha criança que até então existira está deixando de existir, está partindo para sempre, e esse adolescente que surge, não sabe quem é ao certo, nem sabe que vive o luto pela perda desse corpo infantil, pela perda dos pais da infância, pela perda de sua identidade e papel sócio-familiar infantil. São muitas perdas de uma só vez. E o sofrimento é inevitável!
Tantas mudanças repercutem diretamente na evolução da personalidade, mas durante o período de transição o adolescente oscila entre comportar-se ora como criança ora como adulto, assim como também os pais oscilam em como tratá-lo.
Pois é, este furacão que passa pela vida dos adolescentes atinge também a vida de seus pais que já não estão mais no controle da vida dos filhos. Daí por diante eles têm escolhas próprias e brigarão por elas, para construir sua própria identidade podem passar pela ‘desconstrução’ dos valores e esquemas familiares que até então lhes deram todas as referências de ser quem é. Para tornar-se um indivíduo é necessário separar-se dos pais, e para separar-se dos pais é preciso encontrar sua tribo, a turma, os amigos, que passam a ser sua nova fonte de identificação.
‘Por algum tempo o/a adolescente experimenta vários papéis, identificando-se com diferentes figuras ou grupos do seu meio social e assimilando valores e papéis fora do meio familiar. Nesta etapa da vida pode-se assumir diferentes identidades, que podem ser transitórias, ocasionais ou circunstanciais. Tudo numa mesma pessoa que começa a sentir e necessita entender a sua intimidade’.
Os pais observam todo esse movimento, muitas vezes com angustia, principalmente quando se sentem perdendo seus filhos para um universo que eles não escolheram e não concordam, quando existem conflitos e os confrontos causam feridas maiores, distanciando-os afetivamente. Sem saber como lidar, os pais podem variar entre a permissividade extrema e o autoritarismo militar tolhendo toda a liberdade. Nenhum dos extremos levará ao entendimento, mas, se sabem o que esperar dos filhos nessa fase, sem lançar expectativas irreais em cima desses seres em desenvolvimento vertiginoso, por certo tornarão mais brando esse longo caminho de construção do EU.
Apesar do meio sócio-cultural dos adolescentes apresentarem diferenças de comportamentos, podemos esperar algumas características fundamentais além da busca de si mesmo e da identidade; da tendência grupal e das atitudes reivindicatórias já bem conhecidas. Os adolescentes têm necessidade de intelectualizar e de fantasiar, têm crises religiosas, apresentarão sucessivas contradições em todas as manifestações de conduta porque a conduta está dominada pela ação, sofrem constantes flutuações de humor, um sentimento básico de depressão e ansiedade acompanhará, como substrato, permanentemente o adolescente. Experimentará a solidão e o medo da rejeição consciente. Armará todo seu arsenal de mecanismos de defesa para proteger-se do mundo, mas nada disso evitará seu sofrimento...
Poder aceitar que os filhos vieram para contestar e ajudar os pais a crescerem, poder aceitar a ‘anormalidade’ habitual do adolescente, vista desde o ângulo da personalidade idealmente sadia, permitirá aos pais uma aproximação mais produtiva a esse período da vida. Somente quando o mundo adulto o compreende adequadamente e facilita a sua tarefa evolutiva o adolescente poderá desempenhar-se correta e satisfatoriamente, gozar de sua identidade, de todas as suas situações, mesmo das que, aparentemente, tem raízes patológicas, para elaborar uma personalidade mais sadia e feliz.
Do contrário, sempre se projetarão no adolescente, as ansiedades e patologias do adulto e se produzirá o colapso ou a tal crise de confronto de gerações, que dificulta o processo de crescimento de pais e filhos.
Aos pais, firmeza e amorosidade para dar chão sem cortar as asas, dar limites sem tolher a liberdade de escolhas e experiências saudáveis. Aos pais, equilíbrio na sua própria vida e emoções, olhar nos olhos dos filhos, poder ouvir e calar, não invadir sem pedir licença, mas marcar sua presença como o porto seguro para onde sempre se pode voltar.
Voltando ao furacão, tudo está fora do lugar, mas está tudo lá, o alicerce esta lá, se for firme os estragos terão sido bem menores, se for frágil, é tempo de reforçar. Juntar os destroços, o que ficou inteiro, o que precisa reformar, jogar fora o que já não serve e para o que fica, escolher um novo lugar. Árdua tarefa!
De todo esse caos, só o amor é capaz de esperar pacientemente o furacão passar, dando o tempo das transformações construírem uma nova relação, onde a amizade, o diálogo, o respeito, a verdade e a ética norteiem e reforcem ainda mais o amor.

Joana Carolina Paro

Publicado em 04 de julho de 2009 no jornal "Diário de Penápolis".