sábado, 5 de dezembro de 2009

EROS FERIDO

A realidade se passa exatamente entre os opostos, a vida se dá paradoxalmente no limite e nós, pobres humanos, suspensos na corda bamba das ilusões, corporificamos todos os conflitos nascidos dos conceitos que dividem o mundo entre o BEM e o MAL.
Um dos aspectos que mais sofre a ação direta desses ‘pré-conceitos’ é a sexualidade humana, através das inúmeras disfunções sexuais que comprometem a vida amorosa e a plena vivência do maior prazer que o corpo pode experimentar em parceria com a mente e a alma, na companhia de outra pessoa.
Pesquisas atuais revelam que quase metade dos homens e mulheres apresentam insatisfações e disfunções sexuais diversas. Nos homens, as principais queixas estão ligadas à dificuldade de ter ou de manter a ereção durante o ato sexual, o que impossibilita o orgasmo. Outra queixa é a ejaculação precoce, a ejaculação retardatária ou mesmo a falta dela, comprometendo, muitas vezes, a qualidade da vida sexual do casal e provocando muita angústia e ansiedade para o homem, o que só faz piorar os sintomas. Dores no ato da penetração são bem raras nos homens e mais comum nas mulheres, porém não é a principal queixa do universo feminino. O problema mais comum entre elas é a falta de desejo e excitação sexual, a falta de lubrificação vaginal que é provocada pela excitação e sem a qual a penetração torna-se incomoda e dolorida. Outra queixa é a dificuldade ou falta total do orgasmo, o clímax, a celebração máxima do ato sexual!
Estudos cada vez mais aprofundados sobre a origem dos problemas sexuais nos humanos, remetem-nos à um passado onde os mitos e crenças populares sobre o sexo ainda permeiam o imaginário coletivo e individual, gerando as atitudes, o modo de pensar, sentir e agir, resultante do potencial herdado, do meio físico, sociocultural e sobretudo, das experiências afetivas vivenciadas durante toda a vida nas várias fases do desenvolvimento da libido.
Embora não se possa eliminar a possibilidade de causas orgânicas, genéticas e congênitas das disfunções sexuais, como também aquelas provocadas por efeitos colaterais de medicamentos, adição de drogas, alcoolismo, estresse e transtornos de humor, devemos considerar seriamente os mitos sexuais que determinam o padrão de sexualidade de cada pessoa. Esses mitos são um conjunto de idéias com forte conteúdo emocional que se impõem como verdades. Apresentam uma realidade distorcida, sem qualquer valor científico, carregada de superstições, mentiras e fanatismo. Infelizmente são mantidos por uma educação sexual falha e cheia de preconceitos.
Outro fator que predispõe às disfunções sexuais é a falta de conhecimento sobre a anatomia, a fisiologia e a diferença entre a resposta sexual masculina e a feminina. A repressão sexual intensa nas mulheres faz com que muitas delas nunca tenham tocado seu próprio órgão genital, desconhecem os pontos que lhe proporcionam maior prazer e excitação e não se permitem o auto-erotismo e as fantasias sexuais que estimulam o desejo e a excitação. Por outro lado, o homem é super estimulado sexualmente . O mito de ter que estar sempre pronto para o sexo e jamais falhar, provoca equívocos fundamentais na sua postura e desempenho diante do amor sensual.
Este é o palco onde ensaiamos a dança da nossa sexualidade, onde experimentamos as mais intensas emoções proporcionadas pelo AMOR sensual, onde depositamos altas expectativas de realização conjugal. É muito importante para a vida do casal haver harmonia e intimidade no encontro sexual, momentos de entrega total, carícias intensas, beijos apaixonados... Esse encontro dissolve conflitos e dissabores cotidianos além de derramar uma cachoeira de hormônios que nos trazem sensações de plenitude, alegria, bem estar e relaxamento.
Mas... A sexualidade do casal é uma construção constante e sua manutenção depende de muitos outros ingredientes tão importantes quanto o desejo e o bom desempenho. O afeto, o respeito, a atenção às necessidades um do outro, o diálogo franco, o companheirismo, a cumplicidade, solidariedade, a amizade, a liberdade de manifestação dos sentimentos, o cuidado com a sensibilidade da pessoa amada, a confiança e a segurança de ser aceito como se manifesta no momento, fazem toda a diferença. O cuidado com o AMOR é o melhor adubo para o florescer constante da sexualidade!
As insatisfações sexuais devem ser tratadas pelo casal, mesmo que estejam localizadas em apenas um de seus pares. A crise na sexualidade deve ser enfrentada sem preconceitos que camuflam e distorcem a realidade, provocando ainda mais desencontro e sofrimento. Buscar profissionais e informações adequadas, provocar mudanças de conceitos e hábitos, livrar-se de mitos e crenças que já não fazem sentido, rever contratos conjugais e não se deixar sufocar pela rotina dos casamentos duradouros, são os grandes ganhos que podemos ter com as crises da sexualidade. Afinal, o corpo não mente nunca e denuncia nossos enganos. Toda crise é a medida de segurança, o sinal de alerta para salvar a nossa VIDA!

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