quarta-feira, 18 de novembro de 2009

FOGO ARDENTE

Paixão é uma fogueira acesa ardendo no corpo e na alma... Fogos de artifício iluminando o céu, celebrando a chegada de um novo começo ! Acontece em qualquer tempo da vida e é sentida de forma semelhante em todas as idades.
Paixão é energia libidinal manifesta no corpo em forma de desejo, na mente em forma de posse, no coração em forma de esperança de amor eterno. Os apaixonados vivem o sonho do amor romântico perfeito, do “felizes para sempre” sem absolutamente nada que possa macular esse sonho, navegam tranqüilos no universo paralelo da ilusão e da fantasia. Por todas essas razões, a paixão é bem característica da adolescência, tempo da descoberta do amor sensual e dos prazeres da libido, fazendo vibrar nas células toda a ansiedade do amanhã.
Força de vida e de morte, a paixão também provoca sofrimento. Ciúmes... Medo da perda... Dependência do outro... A falta dela, após experimentar seus encantos e venenos, cava um buraco negro e vazio no peito e nada é capaz de preencher. Por vezes um longo período de depressão e/ou ansiedade. Outras vezes, uma profunda saudade.
Diz a psicologia que não nos apaixonamos pela outra pessoa, mas sim pelo que ela nos faz sentir. Projetamos no ser amado todos os nossos sonhos, nossas melhores qualidades e expectativas, tudo que temos e queremos de bom. Então introjetamos deste ser, aquilo que projetamos nele, só vemos o que queremos ver, a beleza, o carinho, o ideal, o sonho...
Já observaram como a pessoa apaixonada fica mais bonita ? Com um brilho intenso nos olhos, sorriso permanente entre suspiros que denunciam um estado de graça quase divino. Torna-se amável, generosa, de bem com a vida! Tem disposição para o trabalho e para o lazer e faz isso tudo com prazer?
Que delicia estar apaixonada! Estimula a criatividade, provoca a inspiração, brotam palavras de amor e poesia. Cânticos ecoam nos labirintos harmonizando a dança dos corpos no encontro das almas...
Paixão é braseiro em chamas queimando a razão ! Tirando o chão, roubando-nos de nós. Estudos científicos demonstram que a paixão é um ‘enlouquecimento’, é quase uma doença, uma obsessão.
Mas passa. Consome-se em si mesma. Transforma-se.
Pode transformar-se em decepção, em mágoas ou raiva, na rejeição pode transformar-se em ódio e desejo de vingança, mas pode também virar indiferença e depois de um tempo ser esquecida.
Outra possibilidade é transformar-se em amor genuíno e sensual. Retiradas as projeções de nossas expectativas sobre o ser amado, podemos vê-lo exatamente como ele é, contemplar o outro com todas as suas nuances e verdades, sem lentes que o deformam, sem espelhos refletindo nossa própria imagem alterada.
AMOR e PAIXÃO são coisas bem diferentes, mas as confundimos o tempo todo, e por conta desta confusão, nossa alma sofre, desorganizando nossa emoção.
Paixão pede sexualidade, mantém o desejo sexual sempre em alta. Esta é a função da paixão na preservação da espécie, garantir o desejo que provoca o ato da criação da vida! Sem desejo não há ereção, não há orgasmo, não há entrega dos corpos e desejo de perpetuação. Nesse aspecto o ciúmes , as brigas, as breves separações têm o papel de reacender a paixão frente à ameaça da perda do objeto amado. É também a falta de desejo o maior problema nas disfunções sexuais tanto masculinas quanto femininas.
A paixão e o sexo nos dão sensações de muito prazer e forte emoção, mas não nos promovem felicidade. O sentimento amoroso é que nos ilumina a alma e aquece o coração com sonhos de eternidade! É o AMOR para toda a vida que buscamos para nos trazer segurança e conforto à alma, base para nossa idealizada felicidade.
A PAIXÃO não sobrevive, com a mesma pessoa, sem o AMOR, ela tem prazo de validade. Muitas vezes termina junto com o orgasmo.
O AMOR permite que muitas vezes a fogueira da PAIXÃO faça arder novamente, no mesmo coração, todo o desejo de manter-se em profunda união com a pessoa amada, o sexo reveste-se do sagrado e a intimidade e cumplicidade na fusão dos corpos, promove um prazer que vai além dos sentidos... Depois do orgasmo, o carinho, os olhos nos olhos, os corações batendo juntos, o sorriso de profunda gratidão...

O AMOR quer PAZ mas pede PAIXÃO!

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

A ENERGIA DA CRIAÇÃO

A Libido é a energia mais poderosa que atua no instinto do ser humano. É a energia de vida, de criação, a energia sexual do desejo que garante a atração entre macho e fêmea, e assim, a preservação da espécie. Esse instinto de preservação, presente em todos os animais, é também responsável pela sobrevivência e defesa da vida na terra.
Todos sabemos que na Pré-história as relações sexuais humanas seguiam as leis naturais que regiam o instinto de todos os animais, porém, por nascerem e permanecerem por muito mais tempo frágeis e dependentes de cuidados, os humanos foram construindo suas comunidades onde o modo de vida priorizava a garantia da sobrevivência. As mulheres cuidavam da prole e com sua receptividade sexual através da copulação, mantinham seus homens no lar, interessados nos filhos e garantindo, através da caça coletiva dos homens, o suprimento para suas famílias.
Nas sociedades primitivas tanto podia existir a monogamia como a poligamia regular ou ocasional, e até a abstinência sexual enquanto se esperava que o bebê atingisse alguma autonomia. A poligamia era aceita sempre que as comunidades precisassem se expandir e enquanto houvesse recursos para sustentar as famílias. A monogamia assegurava a concentração dos bens. Nas sociedades contemporâneas a monogamia continua a ser o tipo predominante de união conjugal, mas segundo os estudiosos do assunto, muito mais por questões culturais e econômicas do que biológicas.
De lá para cá, muitas, mas muitas revoluções alteraram o curso deste rio da sexualidade que jorra em nós suas águas de prazer e dor!
Desde a descoberta da paternidade e o fim do matriarcado, desde as pinturas e esculturas gregas enfatizando as delícias do sexo hetero e homossexual, desde o Kama-Sutra e o Jardim das Delícias que, há vinte séculos eram verdadeiros tratados de prazeres sexuais, desde a Inquisição, no fim do século XII, onde o sexo foi considerado ‘obra do demônio’ e cruelmente combatido pela igreja católica, condenando milhares de mulheres à fogueira por serem atraentes e sedutoras e portanto, suspeitas de bruxarias e relações com o diabo, fomos construindo novos paradigmas da sexualidade a cada tempo, chegando ao século XIX onde a repressão sexual atingiu seu auge. O casamento foi legalizado, a prostituição recolheu-se a recintos fechados, a masturbação foi considerada prática anormal e repelida, estátuas e quadros de nus foram cobertos em suas partes íntimas como uma repressão frontal aos desejos sexuais. E então, surge FREUD, médico com uma visão inteiramente nova, tendo como objetivo pedagógico conhecer o desenvolvimento sexual da criança, sua fisiologia e o controle dos nascimentos.
Foi só no início do século XX que as indagações e pesquisas de Freud na área da sexualidade humana, embora ainda fosse um assunto ‘vergonhoso’ de ser tratado, vieram quebrar com o mito do pecado e iluminar a importância da sexualidade nas relações diárias dos indivíduos e no desenvolvimento da personalidade do ser humano.
Graças à grande contribuição e abertura do Mestre Freud, hoje sabemos que a sexualidade nasce e morre com o ser humano, não se inicia na puberdade e não termina com a menopausa ou andropausa. É consenso entre os pesquisadores da área, que as práticas sexuais estão submetidas às influências biológicas, à época e cultura que vivemos, à fase da vida e condições físicas e psicológicas que os indivíduos se encontram.
As mulheres fizeram sua revolução sexual e garantiram seu direito ao orgasmo e à liberdade sexual através dos métodos anticonceptivos e da revolução feminista de igualdade de direitos. Homossexuais saíram às ruas assumindo seu direito de amar seus iguais sem preconceitos. O erotismo hoje é assunto de domínio público e estampa a maioria das propagandas na mídia. As doenças sexualmente transmissíveis são cada vez mais fatais e a performance sexual virou obrigação de todos. No meio dessa profusão de novos valores e conceitos, a insatisfação sexual aumenta, as disfunções sexuais em homens e mulheres aparecem com mais freqüência e a infelicidade conjugal fica ao sabor das ilusões e fantasias que já não cabem mais.
Nossas células e nosso inconsciente coletivo ainda guardam a história dos nossos ancestrais, nossas experiências nas relações amorosas e sensuais traçam os contornos que nos fazem ser o que somos. O AMOR que aprendemos e a PAIXÃO que nos incendeia as entranhas e traz promessa de felicidade à nossa alma, são os ingredientes que dão sentido e valor à vida amorosa sensual de todos nós, seres emocionais.
Por todas essas razões e pela complexidade e abrangência do tema, estarei abordando a sexualidade em uma série de artigos a partir deste, onde pretendi apenas apresentar o cenário onde protagonizamos nossa história atual. Desejando, cada vez mais, oferecer instrumentos à reflexão, ao auto-conhecimento e ao desenvolvimento das plenas possibilidades individuais para uma vida saudável e feliz.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

AS DORES DAS PERDAS

Morte não é o contrário de vida, é apenas um dos aspectos dela. Opostos são nascer e morrer. A VIDA se faz desta seqüencia interminável de nascimento, morte e renascimento.
Apesar de sabermos que a única coisa certa na vida é que tudo que nasce, morre um dia, ainda sentimos, diante da morte, as emoções mais doloridas que podemos experimentar. Tememos o desconhecido, tememos a escuridão e a solidão, temos medo de sentir medo... Medo da morte de quem amamos, do abandono e da saudade que a ausência faz lembrar, da dor insuportável da separação e da perda!
Nossas células guardam a memória de todas as separações que vivemos ao longo da vida, nossa alma chora enquanto nosso ego se dilui quando voltamos a ser aquela criança que só é plena em simbiose com a mãe, na bem-aventurança oceânica do útero materno.
O parto é a primeira separação que experimentamos, quando nascemos para a vida externa estamos perdendo o paraíso da segurança e da união com a mãe. Nascemos dependentes dela para nossa sobrevivência e bem estar, a proximidade e o vínculo afetivo são a base de sustentação de todo o nosso desenvolvimento emocional. Transferiremos às nossas relações futuras os mesmos sentimentos, medos e expectativas que vivenciamos na conexão primordial com a nossa mãe. Separações graves no início da vida deixam sérias cicatrizes emocionais porque afetam profundamente esta conexão humana essencial que nos ensina que somos dignos de sermos amados. É o elo mãe-filho que nos ensina a amar.
Mas, naturalmente tem que haver as separações nos primeiros anos de vida, mães e filhos devem ter suas vidas independentes também uns dos outros para o crescimento e fortalecimento de ambos, e sem dúvida produzirão tristeza e dor. Mas as separações dentro do contexto de um relacionamento afetuoso e estável, dificilmente deixarão cicatrizes no cérebro das crianças. Mães que trabalham, viajam, estudam, podem estabelecer um relacionamento amoroso, confiante e harmonioso com seus filhos. Quando a separação põe em perigo aquela ligação primeira, torna-se difícil criar confiança, adquirir segurança e a convicção de que durante a nossa vida encontraremos – e merecemos encontrar – pessoas que satisfaçam as nossas necessidades. E quando essas primeiras conexões são instáveis, desfeitas ou mesmo prejudicadas, podemos transferir essa experiência para aquilo que esperamos dos nossos amigos, nossos filhos, nosso companheiro amoroso e até para sócios profissionais.
Se estamos sempre esperando o abandono, ficamos desesperados, sentimos que sem o outro, não somos nada, que sem o amor do outro, morreremos...
Se o que esperamos é a traição, vivemos procurando cada lapso, cada falha que nos comprove a certeza que não podemos mesmo confiar em ninguém.
Quando o que esperamos é a rejeição e a recusa, fazemos exigências excessivas, muitas vezes agressivas, com raiva antecipada por saber que não serão atendidas. Esperando o desapontamento, procuramos garantir que, mais cedo ou mais tarde, seremos mesmo desapontados.
Esta é a infeliz dinâmica da consciência quando tememos, o tempo todo, a perda e a separação. Estabelecemos ‘conexões iradas e ansiosas’ onde frequentemente acabamos provocando aquilo que tanto tememos. Afastamos as pessoas que amamos com a nossa dependência incômoda, cobranças excessivas, carências intermináveis. Com medo da separação, repetimos a nossa história num novo tempo, com novos personagens, num novo cenário, mas com o peso poderoso de um passado esquecido, porem presente na incontrolável ansiedade que é a ‘lembrança’ da perda.
A iminência da perda provoca ansiedade, mas a ansiedade contém a semente da esperança! Quando a perda parece permanente, entramos em desespero, experimentamos a dor e a depressão, nos sentimos abandonados e sozinhos, muitas vezes culpados, desamados, perdidos para sempre...
E é nessa depressão, nessa volta ao silêncio e à vacuidade do SER, que encontramos a grande chance de deixar morrer nossas iras e mágoas, nossas culpas e abandonos, nossas falsas carências de proteção e cuidados, a ilusão de completude através do outro. É a oportunidade de encontrar, no fundo do poço, a FONTE de água pura que sacia e alimenta nossa ALMA, a fonte do AMOR pessoal que faz renascer a cada dia, a ESPERANÇA que sustenta a VIDA, transformando a MORTE em importante PORTAL para o próprio RENASCIMENTO. Desta vez, sendo a MÃE amorosa e generosa de sua CRIANÇA imortal.