segunda-feira, 26 de outubro de 2009

ENVELHECER COM JUVENTUDE

A gente nunca pensa em envelhecer enquanto é jovem.
A gente sempre acha que ainda é jovem para pensar em envelhecer.

Temos medo... Pavor... Horror só em pensar !
Alguns, não todos, claro!

Conheço inúmeras pessoas que envelhecem magnificamente aceitando e superando as limitações de seu tempo. Pessoas que vão pelo caminho, sempre revendo conceitos e valores, tornando-se menos preconceituosas, menos moralistas, mais flexíveis, que seguem transformando todo o conhecimento de uma vida em sabedoria de viver em equilíbrio consigo mesmas, com os outros e com o universo. Sem julgamentos. Amorosamente acolhendo as imperfeições humanas e proporcionando harmonia ao mundo.

Diz um ditado que morremos como vivemos. Então, temos que nos ocupar de como estamos vivendo e não nos pré-ocupar de como ou quando morreremos.

É isso que faz a diferença, saber que fazemos nossas escolhas.

A expectativa de vida aumentou e o mercado está transbordando de ofertas de como não envelhecer, ou melhor, não desenvolver as doenças da velhice. Estamos cansados de saber sobre a necessidade de dieta equilibrada, exercícios físicos, interesses diversificados para manter os neurônios em atividade, amigos verdadeiros, família solidária, algum lazer, se possível um amor sensual sem conflitos, isso para manter a qualidade de vida na velhice. Tudo isso dá um imenso trabalho! Cuidados constantes, diários, rotineiros.Durante a jornada inteirinha.

Envelhecer com juventude é um grande lance!

Acredito que isso é possível, e para mim significa envelhecer com alegria e entusiasmo pela vida, é estar aberto às novas formas de cultura renovada pelas gerações. Experimentar tudo que a vida oferece dentro das suas condições, conhecer seus limites e fazer deles cercas vivas cultivadas com primaveras num belo jardim. Significa adquirir o direito de fazer arte sem preocupar-se com o sucesso e as críticas, pelo simples prazer de ver as horas passarem descobrindo seus próprios traços, suas cores, sua poética de expressão na vida.
Ir de encontro ao EU maior que nos habita...

Envelhecer com juventude é cultivar o amor incondicional a serviço do outro como instrumento de transformação do mundo. Ensinar as crianças e os jovens o valor de servir com amor a toda a humanidade. Ser revolucionário na sua linguagem de paz.

Envelhecer com juventude é transcender as aparências e as limitações e penetrar na alma da vida, no seu verdadeiro sentido, nas esferas mais sutis da consciência do eterno mistério da existência. Ter juventude é caminhar como quem dança, sonhar como criança e amar, amar e amar...

sábado, 17 de outubro de 2009

VIVA A PRÔ!

Ainda posso lembrar-me, com certa nitidez, do primeiro dia em que fui à escola para início da alfabetização. Eu tinha seis aninhos e muitas expectativas. Não lembro bem quem segurava minha mão até a porta da escola, mas jamais esquecerei o olhar doce e o sorriso cheio de ternura da minha querida professora, dona Ana Aparecida.
Lembro-me da minha timidez diante daquele mundo novo, da sensação de insegurança nos primeiros dias de aula, mas sempre, sempre aquele olhar de aceitação e a paciência carinhosa com que minha professora corrigia meus erros, chamava a atenção quando necessário e elogiava os acertos fazendo-me sentir aprovada e inteligente, encorajava-me a seguir em frente com a certeza de conseguir!
Este momento da vida de toda criança é sempre mágico e cheio de expectativas, como tal, causa ansiedade e excitação pela novidade e desafios. A primeira experiência de vida escolar, os primeiros anos da educação infantil e ensino fundamental são de vital importância na construção do vínculo que o aluno terá com todo seu processo de aprendizagem e com a escola. Se o vínculo for positivo, baseado no respeito às diferenças, na aceitação das dificuldades, no carinho e afeto na relação pessoal, então a criança poderá sentir-se segura e motivada a aprender e corresponder às expectativas que os adultos têm sobre ela.
A construção das redes neurais, com a quais a criança passará a responder aos estímulos da educação formal, são estabelecidas muito mais através das emoções que acompanham o aprendizado dos símbolos do que com a lógica e a razão. As experiências vividas durante esses anos ajudam a formar nosso bem-estar emocional. A negligência dos pais, a rejeição materna, o excesso de rigidez e traumas precoces, podem mudar o cérebro das crianças para sempre, afetando as reações emocionais frente a eventos estressantes e predispondo a transtornos de ansiedade e depressão. Aos seis anos, o cérebro atinge 95% do peso que terá quando q pessoa estiver adulta e o ápice do consumo energético. Por volta dessa idade a criança começa a aplicar a lógica e entender seus próprios processos de pensamento. O cérebro continua a crescer, fazendo e quebrando conexões neurais com as experiências, até que, depois de um pico de produção de massa cinzenta, aos 11 anos em meninas e 14 em meninos, a puberdade chegará e mudará tudo novamente.
Ufa! Esse é o universo em pleno desenvolvimento e construção de si mesmo que as professoras e professores recebem para atuar de forma direta, sistemática, cotidianamente, com a responsabilidade de desenvolver os processos cognitivos e formar cidadãos para o mundo. Tarefa delicada e complexa uma vez que quem educa, também é um universo emocional com sua história de vida, seus valores e conceitos, seu temperamento e personalidade, seus ideais, expectativas e frustrações.
Quero aqui, prestar minha amorosa homenagem à todos os educadores e educadoras, pelo reconhecimento de sua importante missão na construção de um mundo muito melhor. Sei que a maioria de vocês tem se sentido abandonada pelos pais da instituição a quem se subordinam, negligenciados em sua própria casa, desrespeitados por alguns alunos e sem o reconhecimento e a participação de boa parte das famílias que lhes confiam a educação dos filhos. Sei também que a extensa jornada de trabalho que precisam cumprir para que o salário possa suprir suas necessidades, rouba-lhes o tempo de convivência familiar, o lazer, o relaxamento necessário à boa condição física e mental para enfrentar o dia a dia com muitas crianças transbordantes de energia e carentes de atenção e estímulos.
Não posso deixar de ressaltar a enorme contribuição que vocês, professoras e professores, mulheres e homens que desempenham sua profissão com AMOR e ÉTICA, dão à vida das pessoas que passam pelas suas mãos, pelo seu olhar, pelo seu afeto e encontram em vocês a segurança e o estímulo para desbravar o mundo que as circundam, para expandir a consciência sobre si mesmas, construindo sólidos princípios para o desenvolvimento de um SER humano ÍNTEGRO e PLENO que todos nós queremos ser.
Resistam à todas as intempéries, estar à serviço da vida é a grande missão de todos nós, e quando o nosso trabalho nos dá a oportunidade de desempenhar esta missão, devemos honrar o privilégio de receber esta GRAÇA colocando à disposição do outro o que temos de melhor em nós, a generosidade da afetividade que transborda dos corações daqueles que encontram no amor, o sentido maior de sua existência e reconhecem no outro o seu manancial de evolução pessoal a caminho da plenitude e da felicidade.

sábado, 10 de outubro de 2009

DESAPEGAR... NÃO É FÁCIL.

Do seio da mãe,
Do colo querido,
Daquela chupeta,
Do brinquedo favorito,
Da infância, dos medos,
Das ilusões da vida...
Do amor que se foi
E até da ferida.
Desapegar... Não é fácil.
Das mágoas sentidas nas decepções
Das expectativas jamais cumpridas,
Da raiva que queima a alma,
Exige vingança, mata a calma,
Da lágrima que briga
Com os olhos cansados...
Desapegar... Não é fácil.
Do veneno que circula nas veias,
Das lembranças enoveladas,
De pensamentos viciados
Em inúteis padrões ultrapassados,
De um passado que já era
E mesmo assim
Desapegar ... Não é fácil.
Pois isso tudo
É só o que temos
Quando vivemos de apegos.
Com medo da escassez
Acumulamos culpas em segredo,
Crenças e valores sem sentido
Amores entorpecidos.
Juntamos o que cultivamos
Para preencher o espaço
Que o amor deixou vazio...

Um dos conceitos que mais me instiga a refletir sobre os valores que estão ancorando minha vida e minhas escolhas conscientes e inconscientes, nos últimos tempos, é o APEGO. Esta reflexão começou quando conheci as tradições espirituais orientais, mas sobretudo quando confirmei na minha prática de trabalho e na própria existência, tudo que essa filosofia de vida nos ensina sobre esse valor enraizado em nossa cultura. O TER como fonte maior de satisfação e realização.
Na verdade acreditamos que teremos segurança e felicidade se pudermos reter aquilo que nos dá a sensação de plenitude. As pessoas que amamos têm que nos pertencer, as nossas idéias têm que ser verdades absolutas, os bens materiais têm que estar sob nossa posse, os momentos encantados da vida têm que durar para sempre. Nos apegamos não apenas ao que é bom, mas também fazemos isso com as mágoas, raivas, fatos que já desapareceram no tempo. Nos apegamos à fantasias e ilusões, à idealizações que jamais se cumprirão, nos apegamos ao velho e conhecido mundo do passado como se ele fosse tudo que temos e teremos.
O apego gera o medo da perda, do abandono, da solidão, da escassez, enfim, todo o sofrimento humano. Sabemos da impermanência de todas as coisas, da roda da vida que gira e gira traçando novos caminhos enquanto os percorremos. Tudo passa como a paisagem que vamos deixando para trás, como os sonhos da infância e as paixões da adolescência. Assim também devemos deixar no caminho as decepções, desapegar das ilusões e das expectativas que podem nos frustrar, dos conceitos que já não fazem mais sentido no atual momento da nossa vida e de todo o lixo emocional que acumulamos ao longo dos nossos dias. Desapegar das culpas que mantemos a nos punir e dos valores que não servem mais à nossa felicidade.
O que permanece pela eternidade é só o AMOR, todo o resto é efêmero e fugaz.
Quando amamos verdadeiramente, deixamos fluir a vida, e a liberdade é a condição que conquistamos com o desapego, porque sabemos que fazemos parte desse imenso oceano cósmico de amor universal onde somos UM e jamais estaremos sós.