sábado, 10 de outubro de 2009

DESAPEGAR... NÃO É FÁCIL.

Do seio da mãe,
Do colo querido,
Daquela chupeta,
Do brinquedo favorito,
Da infância, dos medos,
Das ilusões da vida...
Do amor que se foi
E até da ferida.
Desapegar... Não é fácil.
Das mágoas sentidas nas decepções
Das expectativas jamais cumpridas,
Da raiva que queima a alma,
Exige vingança, mata a calma,
Da lágrima que briga
Com os olhos cansados...
Desapegar... Não é fácil.
Do veneno que circula nas veias,
Das lembranças enoveladas,
De pensamentos viciados
Em inúteis padrões ultrapassados,
De um passado que já era
E mesmo assim
Desapegar ... Não é fácil.
Pois isso tudo
É só o que temos
Quando vivemos de apegos.
Com medo da escassez
Acumulamos culpas em segredo,
Crenças e valores sem sentido
Amores entorpecidos.
Juntamos o que cultivamos
Para preencher o espaço
Que o amor deixou vazio...

Um dos conceitos que mais me instiga a refletir sobre os valores que estão ancorando minha vida e minhas escolhas conscientes e inconscientes, nos últimos tempos, é o APEGO. Esta reflexão começou quando conheci as tradições espirituais orientais, mas sobretudo quando confirmei na minha prática de trabalho e na própria existência, tudo que essa filosofia de vida nos ensina sobre esse valor enraizado em nossa cultura. O TER como fonte maior de satisfação e realização.
Na verdade acreditamos que teremos segurança e felicidade se pudermos reter aquilo que nos dá a sensação de plenitude. As pessoas que amamos têm que nos pertencer, as nossas idéias têm que ser verdades absolutas, os bens materiais têm que estar sob nossa posse, os momentos encantados da vida têm que durar para sempre. Nos apegamos não apenas ao que é bom, mas também fazemos isso com as mágoas, raivas, fatos que já desapareceram no tempo. Nos apegamos à fantasias e ilusões, à idealizações que jamais se cumprirão, nos apegamos ao velho e conhecido mundo do passado como se ele fosse tudo que temos e teremos.
O apego gera o medo da perda, do abandono, da solidão, da escassez, enfim, todo o sofrimento humano. Sabemos da impermanência de todas as coisas, da roda da vida que gira e gira traçando novos caminhos enquanto os percorremos. Tudo passa como a paisagem que vamos deixando para trás, como os sonhos da infância e as paixões da adolescência. Assim também devemos deixar no caminho as decepções, desapegar das ilusões e das expectativas que podem nos frustrar, dos conceitos que já não fazem mais sentido no atual momento da nossa vida e de todo o lixo emocional que acumulamos ao longo dos nossos dias. Desapegar das culpas que mantemos a nos punir e dos valores que não servem mais à nossa felicidade.
O que permanece pela eternidade é só o AMOR, todo o resto é efêmero e fugaz.
Quando amamos verdadeiramente, deixamos fluir a vida, e a liberdade é a condição que conquistamos com o desapego, porque sabemos que fazemos parte desse imenso oceano cósmico de amor universal onde somos UM e jamais estaremos sós.

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