sábado, 17 de outubro de 2009

VIVA A PRÔ!

Ainda posso lembrar-me, com certa nitidez, do primeiro dia em que fui à escola para início da alfabetização. Eu tinha seis aninhos e muitas expectativas. Não lembro bem quem segurava minha mão até a porta da escola, mas jamais esquecerei o olhar doce e o sorriso cheio de ternura da minha querida professora, dona Ana Aparecida.
Lembro-me da minha timidez diante daquele mundo novo, da sensação de insegurança nos primeiros dias de aula, mas sempre, sempre aquele olhar de aceitação e a paciência carinhosa com que minha professora corrigia meus erros, chamava a atenção quando necessário e elogiava os acertos fazendo-me sentir aprovada e inteligente, encorajava-me a seguir em frente com a certeza de conseguir!
Este momento da vida de toda criança é sempre mágico e cheio de expectativas, como tal, causa ansiedade e excitação pela novidade e desafios. A primeira experiência de vida escolar, os primeiros anos da educação infantil e ensino fundamental são de vital importância na construção do vínculo que o aluno terá com todo seu processo de aprendizagem e com a escola. Se o vínculo for positivo, baseado no respeito às diferenças, na aceitação das dificuldades, no carinho e afeto na relação pessoal, então a criança poderá sentir-se segura e motivada a aprender e corresponder às expectativas que os adultos têm sobre ela.
A construção das redes neurais, com a quais a criança passará a responder aos estímulos da educação formal, são estabelecidas muito mais através das emoções que acompanham o aprendizado dos símbolos do que com a lógica e a razão. As experiências vividas durante esses anos ajudam a formar nosso bem-estar emocional. A negligência dos pais, a rejeição materna, o excesso de rigidez e traumas precoces, podem mudar o cérebro das crianças para sempre, afetando as reações emocionais frente a eventos estressantes e predispondo a transtornos de ansiedade e depressão. Aos seis anos, o cérebro atinge 95% do peso que terá quando q pessoa estiver adulta e o ápice do consumo energético. Por volta dessa idade a criança começa a aplicar a lógica e entender seus próprios processos de pensamento. O cérebro continua a crescer, fazendo e quebrando conexões neurais com as experiências, até que, depois de um pico de produção de massa cinzenta, aos 11 anos em meninas e 14 em meninos, a puberdade chegará e mudará tudo novamente.
Ufa! Esse é o universo em pleno desenvolvimento e construção de si mesmo que as professoras e professores recebem para atuar de forma direta, sistemática, cotidianamente, com a responsabilidade de desenvolver os processos cognitivos e formar cidadãos para o mundo. Tarefa delicada e complexa uma vez que quem educa, também é um universo emocional com sua história de vida, seus valores e conceitos, seu temperamento e personalidade, seus ideais, expectativas e frustrações.
Quero aqui, prestar minha amorosa homenagem à todos os educadores e educadoras, pelo reconhecimento de sua importante missão na construção de um mundo muito melhor. Sei que a maioria de vocês tem se sentido abandonada pelos pais da instituição a quem se subordinam, negligenciados em sua própria casa, desrespeitados por alguns alunos e sem o reconhecimento e a participação de boa parte das famílias que lhes confiam a educação dos filhos. Sei também que a extensa jornada de trabalho que precisam cumprir para que o salário possa suprir suas necessidades, rouba-lhes o tempo de convivência familiar, o lazer, o relaxamento necessário à boa condição física e mental para enfrentar o dia a dia com muitas crianças transbordantes de energia e carentes de atenção e estímulos.
Não posso deixar de ressaltar a enorme contribuição que vocês, professoras e professores, mulheres e homens que desempenham sua profissão com AMOR e ÉTICA, dão à vida das pessoas que passam pelas suas mãos, pelo seu olhar, pelo seu afeto e encontram em vocês a segurança e o estímulo para desbravar o mundo que as circundam, para expandir a consciência sobre si mesmas, construindo sólidos princípios para o desenvolvimento de um SER humano ÍNTEGRO e PLENO que todos nós queremos ser.
Resistam à todas as intempéries, estar à serviço da vida é a grande missão de todos nós, e quando o nosso trabalho nos dá a oportunidade de desempenhar esta missão, devemos honrar o privilégio de receber esta GRAÇA colocando à disposição do outro o que temos de melhor em nós, a generosidade da afetividade que transborda dos corações daqueles que encontram no amor, o sentido maior de sua existência e reconhecem no outro o seu manancial de evolução pessoal a caminho da plenitude e da felicidade.

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