segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Espelho, espelho meu...

Não posso furtar-me a escrever sobre um dos temas mais importantes de nossas vidas diante da morte precoce de um ídolo mundial e do fenômeno de sua metamorfose. Sua história ilustra perfeitamente os conceitos de várias teorias psicológicas e fundamenta a busca pela ‘imagem perfeita’ a qualquer custo.
Michael Jackson jamais ficou satisfeito! Para além do espelho, as lentes da ‘auto estima’ deformavam a sua imagem.
A auto estima é a lente através da qual vemos o mundo. Esta lente é construída a partir da imagem que temos de nós mesmos. Se apreciamos essa imagem, aceitamos e gostamos dela, então nossa auto estima é elevada, caso contrário, se depreciamos e rejeitamos a imagem que fazemos de nós, nossa auto estima fica extremamente rebaixada. Este é o julgamento mais importante que fazemos em nossas vidas, o julgamento que fazemos de nós mesmos, porque é através dele que julgaremos o mundo e também as pessoas que nos rodeiam. Acreditaremos que todo o mundo nos vê como nós próprios nos vemos. Se não gosto de mim, acredito que ninguém possa gostar, mas se sou capaz de aceitar-me como sou e amar meu ser como um todo, acredito que o resto do mundo também possa fazê-lo.
A auto estima tem suas bases na infância. As principais referências de importância quem dá ao ser humano são os seus pais. A maneira como se relacionam, olham, cuidam, acolhem, educam; as palavras que dizem aos e sobre os filhos, constroem a imagem que a criança tem de si mesma. Se aprovada, sente-se importante e amada, se desaprovada, sente-se incompetente e rejeitada, acha-se má, incapaz de ser amada.
O pai de Michael Jackson era severo demasiadamente e nunca dava sinais de reconhecimento e aceitação aos filhos, dizia ao Michael que era feio e parecia um macaco, humilhava a criança talentosa e espontânea que, como toda criança, precisa e persegue a aceitação e o amor dos pais, a vida toda...
Pela vida, outras referências serão quase tão importantes quanto a dos pais, cada qual a seu tempo. Os professores, os amigos de adolescência, os ‘amores’, trarão novos contornos a essa imagem da infância, poderão melhorá-la e ajudar a modificá-la a ponto de construir verdadeiros sentimentos de importância, competência e pertinência, tão vitais na manutenção de uma auto estima saudável.
Porém, quando nos tornamos adultos e responsáveis por nós, a referência de nós mesmos tem que ser interna, não pode mais ser externa. Auto quer dizer próprio, auto estima é o amor próprio, o amor que cada um deve ter por si mesmo, independente daquilo que os outros possam pensar ou julgar. Esse sentimento sempre estará baseado na importância que cada um dá à sua própria existência, em quanto se julga competente em todos os papéis que desempenha na vida, seja de filho ou de mãe, de amiga, o papel profissional,o de amante ou de marido, enfim, são essas duas noções, de importância e competência aliadas, que mantém as oscilações naturais da nossa auto estima.
Com a auto estima elevada, sentimo-nos no direito e merecimento de sermos felizes e realizarmos nossos sonhos, permitimo-nos experimentar e errar para aprender, podemos rir de nós próprios e tornar mais leve o fardo das culpas, não colocamos nossas vidas nas mãos de qualquer um. Ao contrário, quando a auto estima é falha, o julgamento sobre si mesmo é tão pesado que só há um caminho, a condenação e a consequente punição a través da infelicidade e solidão das escolhas erradas.
Não é a busca pela ‘imagem perfeita’, seja ela objetiva ou subjetiva, que transformará esse sentimento dentro do ser humano... Os padrões de beleza e comportamento estabelecidos na sociedade, serviram e servirão sempre ao poder, seja o poder do dinheiro ou da sedução, efêmeros valores que jamais foram capazes de sustentar a felicidade.
Tudo que precisamos para manter uma adequada auto estima, é começar aceitando aquilo que não dá pra mudar. Não dá pra mudar nossos pais, nem a história que já vivemos... Não dá para mudar nossa genética mas sim nossa consciência!
Precisamos aprender a deixar no passado tudo que nos incomodou um dia, perdoar para nos livramos do lixo emocional das mágoas, desapegar do sofrimento, da raiva, dos preconceitos, dos julgamentos... Perdoar nossos próprios pecados...
Silenciar as vozes que ainda nos julgam e aceitar aquilo que pudemos ser, entendendo a dinâmica dos relacionamentos, podemos fazer novas escolhas, podemos deixar o destino herdado e, a partir dele, construir o destino escolhido.
E só então, deixaremos de ser vítimas para sermos heróis da nossa história, há dois caminhos a seguir, o caminho da vítima do mundo e de todos, e o caminho do herói que enfrenta as batalhas, ganha, perde, cai, levanta, aprende e cresce... Mas jamais desiste de ser feliz!
A escolha é de cada um, e precisa ser uma escolha consciente!

Joana Carolina Paro

Publicado em 11 de julho de 2009 no jornal 'Diário de Penápolis'.

Um comentário:

  1. Caroline,
    Adorei a simplicidade de seu texto ao tratar de um assunto tão complexo como a autoestima. Nos faz refletir bastante...
    Abreijos
    Dri

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