segunda-feira, 24 de agosto de 2009

O AMOR E O MEDO

Quem nunca sentiu ciúmes que atire a primeira pedra!
Emoção universal, faz parte da condição humana desde a mais tenra idade até a morte. Uns sentem mais, outros menos. Uns conseguem controlar e outros matam e/ou morrem por ele.
A intensidade do sofrimento que o ciúme causa é determinada pelas experiências infantis e pelas vivências amorosas ao longo de toda a vida. Mais uma vez vamos constatar que a matriz das nossas emoções está na qualidade do vínculo que estabelecemos com nossos pais, mas, no amor sensual ficam gravadas as imagens daquilo que assistimos do amor entre os nossos pais. Se assistimos manifestações de carinho e respeito, acreditaremos no amor sensual, caso contrário teremos dificuldade em entregar nosso amor e confiar no casamento.
O bebê já é capaz de demonstrar o ciúme que sente pela mãe quando o pai ou irmãos ameaçam o seu reinado. O medo do abandono se traduz pelo choro do bebê quando, longe da mãe, sente-se perdido e desprotegido porque depende totalmente dela para sobreviver. O bebê chora porque sente dor verdadeira.
O ciúmes faz doer as vísceras, aperta o peito, dá nó na garganta, embola o estômago, causa insônia, depressão, ansiedade e pode desenvolver inúmeras patologias de ordem psicossomática. Isso porque junto com ele vêm várias outras emoções tão destrutivas e doloridas quanto. O medo, a raiva, a inveja, a mágoa, a culpa, o arrependimento, a desconfiança, o ressentimento...
Ciúmes é o medo da perda, o medo da rejeição, da exclusão. Ao contrário do ditado popular, ciúmes não é demonstração de amor. Ciúmes é uma emoção invasiva e como toda emoção, impossível ser evitada. Mas bem possível de ser lapidada.
As pessoas passionais, quando estão apaixonadas, muitas vezes não conseguem conter sua impulsividade diante de algum fato que gera o ciúme e tornam-se violentas, surtam, dizem coisas improváveis e jogam toda a sua ira em cima das pessoas que não querem perder. Essa agressividade acaba por destruir os relacionamentos mais amorosos quando não é reconhecida e devidamente tratada. O ciúmes pode tornar-se doentio, uma paranóia com delírios que criam uma realidade paralela de intenso sofrimento para o ciumento e para o objeto de seu ciúmes.
Em dose homeopática, o ciúme pode trazer emoção às relações, provocar o casal a reforçar o vínculo, reacender o desejo, fazer com que um cuide melhor do outro, preste mais atenção às carências de quem ama. Muitas vezes até reforça a auto estima daquela pessoa que está sendo o alvo do ciúmes, sente-se valorizada, importante, disputada. Esta necessidade leva muita gente a provocar o ciúmes do outro, consciente ou inconscientemente. Afinal, ciúmes não nasce do nada, sempre haverá algo que o justifique, aquele botãozinho que detona a bomba, aquela faísca que acende a fogueira, aquele olhar mais demorado, a atenção a mais que se dá a outra pessoa, um recadinho no Orkut, as intermináveis reuniões, a obsessão pelo trabalho e tantas outras circunstâncias onde o ciumento sente-se excluído. A reação da pessoa que provoca o ciúme poderá reforçar ou amenizar esse sentimento. Se não reconhecer a dificuldade do outro, deixá-lo só com seus fantasmas, rejeitá-lo em sua dor, poderá alimentar esse monstro que nos habita e ser engolido por ele.
Todos sonhamos com a paz no amor, queremos um alguém para a vida inteira e somos muito mais felizes quando encontramos esse amor. Mas assim que o encontramos já começamos a conviver com o medo de perdê-lo. Ao mesmo tempo encontramos o paraíso e o inferno. O amor e o medo.
Mas o amor é maior que o medo e só cresce a dois. Vamos alimentá-lo com a verdade, com o reconhecimento da grandeza do outro em nossa vida, com a valorização da sua presença, com o perdão e a profunda gratidão pela sua existência.

Joana Carolina Paro



Publiado em 15 de agosto de 2009 no jornal "Diário de Penápolis'.

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