segunda-feira, 24 de agosto de 2009

O FURACÃO DA ADOLESCÊNCIA

Gosto de pensar por imagens, assim como fazem as crianças, além de ilustrativo e lúdico, permite um entendimento mais amplo das questões.
Todas as vezes que falo sobre adolescência, a fase mais dinâmica do desenvolvimento físico e mental do ser humano, relaciono à imagem de um furacão. Imagine um furacão passando pela tua casa, tirando tudo do lugar, destelhando , arrancando janelas, quebrando portas, fazendo estragos... Imagine um furacão que pode durar alguns anos para passar. Isso é a adolescência!
Nessa época da vida as mudanças no corpo são drásticas, os chamados ‘estirões’ fazem com que os adolescentes percam a noção de seu esquema corporal, e a invasão dos hormônios da sexualidade provocam sensações novas e emoções jamais vividas. Mudam os interesses, muda o humor, o comportamento, as reações diante da família e sociedade, mudam as roupas, a pele, a fala... Aquela pessoinha criança que até então existira está deixando de existir, está partindo para sempre, e esse adolescente que surge, não sabe quem é ao certo, nem sabe que vive o luto pela perda desse corpo infantil, pela perda dos pais da infância, pela perda de sua identidade e papel sócio-familiar infantil. São muitas perdas de uma só vez. E o sofrimento é inevitável!
Tantas mudanças repercutem diretamente na evolução da personalidade, mas durante o período de transição o adolescente oscila entre comportar-se ora como criança ora como adulto, assim como também os pais oscilam em como tratá-lo.
Pois é, este furacão que passa pela vida dos adolescentes atinge também a vida de seus pais que já não estão mais no controle da vida dos filhos. Daí por diante eles têm escolhas próprias e brigarão por elas, para construir sua própria identidade podem passar pela ‘desconstrução’ dos valores e esquemas familiares que até então lhes deram todas as referências de ser quem é. Para tornar-se um indivíduo é necessário separar-se dos pais, e para separar-se dos pais é preciso encontrar sua tribo, a turma, os amigos, que passam a ser sua nova fonte de identificação.
‘Por algum tempo o/a adolescente experimenta vários papéis, identificando-se com diferentes figuras ou grupos do seu meio social e assimilando valores e papéis fora do meio familiar. Nesta etapa da vida pode-se assumir diferentes identidades, que podem ser transitórias, ocasionais ou circunstanciais. Tudo numa mesma pessoa que começa a sentir e necessita entender a sua intimidade’.
Os pais observam todo esse movimento, muitas vezes com angustia, principalmente quando se sentem perdendo seus filhos para um universo que eles não escolheram e não concordam, quando existem conflitos e os confrontos causam feridas maiores, distanciando-os afetivamente. Sem saber como lidar, os pais podem variar entre a permissividade extrema e o autoritarismo militar tolhendo toda a liberdade. Nenhum dos extremos levará ao entendimento, mas, se sabem o que esperar dos filhos nessa fase, sem lançar expectativas irreais em cima desses seres em desenvolvimento vertiginoso, por certo tornarão mais brando esse longo caminho de construção do EU.
Apesar do meio sócio-cultural dos adolescentes apresentarem diferenças de comportamentos, podemos esperar algumas características fundamentais além da busca de si mesmo e da identidade; da tendência grupal e das atitudes reivindicatórias já bem conhecidas. Os adolescentes têm necessidade de intelectualizar e de fantasiar, têm crises religiosas, apresentarão sucessivas contradições em todas as manifestações de conduta porque a conduta está dominada pela ação, sofrem constantes flutuações de humor, um sentimento básico de depressão e ansiedade acompanhará, como substrato, permanentemente o adolescente. Experimentará a solidão e o medo da rejeição consciente. Armará todo seu arsenal de mecanismos de defesa para proteger-se do mundo, mas nada disso evitará seu sofrimento...
Poder aceitar que os filhos vieram para contestar e ajudar os pais a crescerem, poder aceitar a ‘anormalidade’ habitual do adolescente, vista desde o ângulo da personalidade idealmente sadia, permitirá aos pais uma aproximação mais produtiva a esse período da vida. Somente quando o mundo adulto o compreende adequadamente e facilita a sua tarefa evolutiva o adolescente poderá desempenhar-se correta e satisfatoriamente, gozar de sua identidade, de todas as suas situações, mesmo das que, aparentemente, tem raízes patológicas, para elaborar uma personalidade mais sadia e feliz.
Do contrário, sempre se projetarão no adolescente, as ansiedades e patologias do adulto e se produzirá o colapso ou a tal crise de confronto de gerações, que dificulta o processo de crescimento de pais e filhos.
Aos pais, firmeza e amorosidade para dar chão sem cortar as asas, dar limites sem tolher a liberdade de escolhas e experiências saudáveis. Aos pais, equilíbrio na sua própria vida e emoções, olhar nos olhos dos filhos, poder ouvir e calar, não invadir sem pedir licença, mas marcar sua presença como o porto seguro para onde sempre se pode voltar.
Voltando ao furacão, tudo está fora do lugar, mas está tudo lá, o alicerce esta lá, se for firme os estragos terão sido bem menores, se for frágil, é tempo de reforçar. Juntar os destroços, o que ficou inteiro, o que precisa reformar, jogar fora o que já não serve e para o que fica, escolher um novo lugar. Árdua tarefa!
De todo esse caos, só o amor é capaz de esperar pacientemente o furacão passar, dando o tempo das transformações construírem uma nova relação, onde a amizade, o diálogo, o respeito, a verdade e a ética norteiem e reforcem ainda mais o amor.

Joana Carolina Paro

Publicado em 04 de julho de 2009 no jornal "Diário de Penápolis".

Um comentário:

  1. Pois é...depois tudo se transforma em ventinho, tadinho. Não apaga nem velinha. Depois fica a saudade, que muito bem disse Mário Palmério, é solidão , melancolia, é recordar e sofrer...mais nóis num sofre, nois canta e poeteia.

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